Em viagem tensa à Geórgia, Papa defende diálogo entre católicos e ortodoxos

Papa celebrou missa num estádio meio vazio e enfrentou protestos. Mas disse que que aquilo que une as duas confissões é "verdadeiramente mais importante" do que aquilo que as separa.

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Papa encontrou-se com o patriarca georgiano em Osservatore Romano/AFP

O Papa Francisco pediu aos católicos da Geórgia, menos de um por cento da população deste país do Cáucaso, para se mostrarem unidos e abertos ao diálogo com a maioria ortodoxa, no decorrer de uma viagem em que ficaram bem visíveis as tensões entre as duas confissões.

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O Papa Francisco pediu aos católicos da Geórgia, menos de um por cento da população deste país do Cáucaso, para se mostrarem unidos e abertos ao diálogo com a maioria ortodoxa, no decorrer de uma viagem em que ficaram bem visíveis as tensões entre as duas confissões.

A manhã começou com missa ao ar livre num estádio da capital, Tbilissi, com capacidade para 25 mil pessoas, mas onde não estariam mais de três mil, naquela que terá sido a menos participada das cerimónias já presididas pelo Papa em 16 viagens ao estrangeiro.

E ao contrário do que chegou a ser anunciado, a Igreja Ortodoxa da Geórgia – uma das mais conservadoras, com uma ala que se opõe frontalmente ao diálogo ecuménico – não enviou qualquer representante à celebração. “Era claro desde o início que isso não ia acontecer, disse à AFP uma porta-voz da hierarquia, presidida pelo patriarca Ilia II, acrescentando, no entanto, que a visita de Francisco à Geórgia “reforçará as relações entre as duas Igrejas”.

Um grupo de extrema-direita organizou também protestos nas várias etapas da visita, exibindo cartazes onde se lia “Papa, arqui-herético, não és bem-vindo na Geórgia ortodoxa”. À BBC, um padre ortodoxo explicou estar ali para protestar contra o que diz serem as tentativas da Igreja Católica no país para converter ortodoxos.

Ciente destas tensões, Francisco deixou na Geórgia palavras de “consolo” ao “pequeno rebanho católico” do país, pedindo-lhes para “serem sólidos na fé”. Mas num encontro com padres e seminaristas disse depois que é obrigação dos católicos “serem abertos e amigos” das outras confissões, instruindo-os a “não fazerem jamais proselitismo com os ortodoxos”. “Eles são nossos irmãos e irmãs.”

Apesar da tensão, Francisco encontrou-se por três vezes com Ilia, a última das quais numa catedral do século XI em Mtskheta, a antiga capital da Geórgia nos arredores de Tbilissi. “Aquilo que nos une é verdadeiramente mais importante do que o que nos separa”, afirmou Francisco ao líder ortodoxo, que lhe respondeu afirmando “a profunda estima e amor fraternal” com o Papa.

Desde que foi eleito, em 2013, Francisco tem tentado melhorar as relações com a Igreja Ortodoxa, ambicionando encurtar a distância que separa as duas confissões desde o cisma de 1054. As relações são calorosas com o patriarca de Constantinopla, líder da Igreja Ortodoxa grega e considerado primus inter pares entre as várias Igrejas ortodoxas autocéfalas. Já no início deste ano protagonizou um encontro histórico em Cuba com Kiril, o patriarca da Igreja Ortodoxa russa.

Francisco visita neste domingo o Azerbaijão, país de maioria muçulmana, numa visita que pretende encerrar um périplo pelo Cáucaso iniciada á três meses na Arménia, que mantém com Baku uma disputa territorial pelo controlo do enclave Nagorno-Karabakh desde o colapso da ex-URSS.