Morreu o escritor húngaro Péter Esterházy

Tinha 66 anos e estava doente com um cancro no pâncreas, tema aliás do seu último livro.

Foto
Péter Esterházy (à esquerda) na atribuição do Prémio da Paz em Frankfurt, em 2004 REUTERS/Kai Pfaffenbach

O escritor húngaro Péter Esterházy morreu esta quinta-feira aos 66 anos. O escritor lutava contra um cancro no pâncreas, o que foi aliás o tema do seu último livro, um diário do pâncreas. “É difícil imaginar a literatura húngara, bem como a vida pública húngara, sem ele, que era uma presença tão importante nas duas áreas”, lamentou o editor Krisztian Nyary, da Magveto, à agência AFP.

Em Junho, Péter Esterházy foi o convidado da sessão de abertura da Feira Internacional do Livro de Budapeste. Aí apresentou o livro que em francês tem por título Journal intime du pâncreas, onde evocava a sua batalha contra a doença.

Nascido em Budapeste a 14 de Abril de 1950, pertencia a uma velha família aristocrata expropriada dos seus bens em 1948 depois da tomada do poder pelo Partido Comunista Húngaro. Estudou Matemática e trabalhou durante quatro anos, de 1974 a 1978, no Instituto de Informática do Ministério da Indústria, antes de se dedicar exclusivamente à literatura.

A sua obra mais importante é Harmonia Caelestis (2000), onde retrata a história da sua família e dos seus antepassados desde a época do Império Austro-húngaro e até à perseguição pela ditadura comunista. O livro recebeu o Prémio Sándor Márai e o Prémio de Literatura da Hungria. Em 2004, Péter Esterházy recebeu o Prémio da Paz da Associação dos Livreiros Alemães na Feira do Livro de Frankfurt.  E em 2005 publicou uma nova versão deste livro com o título Revisto e corrigido, depois de ter descoberto que o seu pai tinha sido informador da polícia política durante a era comunista.

Nos últimos anos também se destacou pelas suas posições em relação à política húngara, nomeadamente contra o primeiro-ministro conservador Viktor Orbán, no poder desde 2010, a quem acusou de ter atentado contra a liberdade de imprensa e o equilíbrio de poderes. “O sistema Orbán está a dar cabo da Hungria”, escreveu num artigo publicado em 2015 na revista de esquerda 168 ora

Considerado a figura mais importante da “nova prosa húngara”, deixa uma obra caracterizada pela sua diversidade estilística e pela experimentação formal, uma prosa com “calão e cheia de vida” como a definiu o escritor norte-americano John Updike.

Em França, a maior parte das suas obras está publicada pela Gallimard; em Portugal a Editorial Caminho publicou, na colecção Uma Terra sem Amos, Os Verbos Auxiliares do Coração (de 1992).

Péter Esterházy era um apaixonado pelo futebol, tal como o seu irmão mais novo, um antigo internacional húngaro, e em 2006 escreveu um livro sobre o seu desporto preferido.

Em 2011 foi um dos convidados da FLIP, a Festa Literária Internacional de Paraty.

Sugerir correcção
Comentar