A arbitragem portuguesa de novo no olho do furacão

No trio que luta pelo título, FC Porto é o clube que teve mais jogos apitados por árbitros internacionais e que mereceram melhor classificação. Benfica está no extremo oposto.

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A arbitragem portuguesa está de novo debaixo de fogo Gonçalo Delgado/NFactos

A temperatura em torno da arbitragem portuguesa já andava elevada, mas bastaram dois penáltis mal assinalados em jogos de Benfica e FC Porto na passada jornada do campeonato e a visita de alguns elementos da claque portista ao restaurante do pai do árbitro Jorge Ferreira, que apitou o encontro das “águias”, para que a atmosfera se aproximasse um pouco mais do irrespirável, com renovadas acusações aos critérios das nomeações realizadas pelo Conselho de Arbitragem presidido por Vítor Pereira. O PÚBLICO olhou para os árbitros que têm sido escolhidos para apitar os três “grandes” e constatou que o FC Porto é o clube que, em teoria e até ao momento, tem merecido os melhores árbitros nos seus encontros.

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A temperatura em torno da arbitragem portuguesa já andava elevada, mas bastaram dois penáltis mal assinalados em jogos de Benfica e FC Porto na passada jornada do campeonato e a visita de alguns elementos da claque portista ao restaurante do pai do árbitro Jorge Ferreira, que apitou o encontro das “águias”, para que a atmosfera se aproximasse um pouco mais do irrespirável, com renovadas acusações aos critérios das nomeações realizadas pelo Conselho de Arbitragem presidido por Vítor Pereira. O PÚBLICO olhou para os árbitros que têm sido escolhidos para apitar os três “grandes” e constatou que o FC Porto é o clube que, em teoria e até ao momento, tem merecido os melhores árbitros nos seus encontros.

A conclusão surge depois de se cruzarem dois dados objectivos. Primeiro verificando quantas partidas de cada um dos candidatos ao título foram apitadas por um árbitro internacional (e são merecedores deste estatuto, teoricamente, os melhores em actividade de cada país) – Portugal tem nove juízes com estas credenciais. Depois, analisando quais os jogos dirigidos por árbitros que, na temporada anterior, se classificaram entre os que mereceram melhor nota na avaliação a que são sujeitos no final de cada época.

Ora, nos 24 jogos do campeonato para os quais já se sabe quais foram os árbitros nomeados (incluiu-se aqui já a próxima jornada) o FC Porto beneficiou por 13 ocasiões da presença de árbitros internacionais. No extremo oposto está o Benfica que, no mesmo número de encontros, apenas em sete ocasiões viu os juízes com as insígnias da FIFA orientarem os seus duelos com outras equipas. O Sporting aproxima-se mais dos “dragões” do que das “águias” nesta análise, uma vez que em 24 jornadas teve árbitros internacionais em 11.

E se o olhar se concentrar no número de jogos apitados pelos árbitros com melhor classificação na última temporada, os resultados não são muito diferentes. Na temporada de 2014-15, o “top-5” foi composto por Jorge Sousa, o melhor classificado, seguido de Artur Soares Dias, Olegário Benquerença, João Capela e Manuel Mota. Como Olegário Benquerença, entretanto, se reformou, “repescou-se” para esta análise Bruno Paixão, que terminou a época no sexto posto. E o FC Porto volta a surgir destacado, tendo merecido a presença de um dos cinco melhores árbitros da temporada passada em sete dos seus 24 jogos. O Benfica está, de novo, longe dos portistas, já que apenas quatro dos seus encontros foram dirigidos por um dos cinco melhores juízes da época anterior. Mas, desta vez, o Sporting acompanha os rivais lisboetas no número de partidas dirigidas pelos melhores árbitros de 2014-15.

Apesar do desequilíbrio existente na qualidade dos juízes que têm vindo a apitar os jogos dos três actuais candidatos ao título, a situação não é demasiado valorizada, por exemplo, por João Ferreira, ex-árbitro internacional. Na sua opinião, esta análise deve ser complementada com outras variáveis, que muitas vezes não são do conhecimento público e que condicionam os critérios de nomeação. Contactado pelo PÚBLICO, este antigo juiz de campo, referiu, por exemplo, a lesão que tem afectado Jorge Sousa para justificar o facto de o portuense não ter ainda dirigido qualquer partida do Benfica e apenas ter apitado Sporting e FC Porto por uma ocasião. E lembrou ainda a renovação geracional actualmente em curso no lote dos melhores árbitros nacionais para justificar a aposta noutros para os jogos dos “grandes”. “Muitas vezes é preferível nomear para jogos mais complicados árbitros mais experientes, com mais tarimba do que outros mais jovens apenas porque são internacionais”, explicou.

João Ferreira considera também que o clima que se está a viver neste momento na arbitragem nacional “é uma situação recorrente, numa altura em que as classificações se começam a definir” e que ainda se está longe do ano quente 2012, quando foram divulgados dados pessoais dos árbitros, levando a que fosse montado um esquema de vigilância policial para protecção dos mesmos.

Certo é que os comentários sobre árbitros e arbitragem se têm intensificado. Nesta terça-feira, depois do incidente no restaurante do seu pai, Jorge Ferreira divulgou um comunicado no qual falava de intimidação, coacção, ameaça, insulto, difamação e condicionamento, pedindo aos dirigentes para se demarcarem do comportamento das claques dos clubes. Um apelo sem grande consequência, já que Pinto da Costa, presidente do FC Porto, poucas horas depois deste apelo para um cessar fogo, ripostou: “Em relação ao senhor Jorge Ferreira, o que eu quero dizer é que me demarco completamente desse tipo de arbitragens.” E Bruno de Carvalho, líder do Sporting, visando Vítor Pereira, insistiu no tom que tem tido desde há algum tempo, afirmando que os árbitros precisam de “um líder que não foge”.