O beijo de despedida e o tirar das malas pode custar caro no aeroporto de Faro
Sete curtas entradas de dez minutos no parque de estacionamento do aeroporto de Faro custam 63,50 euros por dia. Os profissionais de transportes de turistas acham um exagero.
O modelo, designado por Kiss & Fly, vai também ser aplicado no Porto e em Lisboa e tem sido contestado pelos profissionais que fazem o transfer de turistas do aeroporto para os hotéis.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O modelo, designado por Kiss & Fly, vai também ser aplicado no Porto e em Lisboa e tem sido contestado pelos profissionais que fazem o transfer de turistas do aeroporto para os hotéis.
O acesso às zonas das chegadas e partidas passou a ser controlado e as permanências são taxadas a partir de dez minutos. As duas primeiras são gratuitas, mas a terceira já custa 3,50 euros só para entrar no parque, sendo crescente o preço por cada nova entrada. Ao fim de sete entradas, o valor pago já vai em 63,50 euros, se o veículo não permanecer mais do que 10 minutos no local de cada vez.
“Uma extorsão” é o que diz o PCP, referindo-se a este modelo de gestão dos acessos ao aeroporto, posto em prática depois da privatização da ANA. Por isso, os comunistas, ainda sem resposta, questionaram o Governo no Parlamento acerca do que que irá fazer travar esta medida.
Em resposta ao PÚBLICO, a ANA justifica o procedimento com a necessidade de “ordenar” a zona designada por curbside, a que está mais perto das portas das saídas e chegadas da aerogare. Na prática, diz a empresa de capitais franceses, “desincentiva-se a utilização por tempos excessivos deste espaço ”. O novo sistema deverá entrar em vigor no Porto até ao fim do Verão e em Lisboa durante o ano de 2016.
A estrada que passa em frente à área das partidas e chegadas — onde antes se parava para deixar ou recolher passageiros — passou a estar interdita no aeroporto de Faro.
Délio Bandeirinha, da Yellowfish Transfers, uma empresa que trabalha com 60 viaturas a transportar turistas, acha “um exagero” os preços cobrados. Os mais castigados, sublinha, “são os profissionais”, ainda que as empresas deste sector possam adquirir uma avença mensal. O seu custo é de 270 euros e permite-lhes o acesso ilimitado aos parques P1e P6, ambos mais afastados das portas das partidas e chegadas.
Igualmente critico desta solução mostra-se Hélder Cavaco, da Bravo Tur. “Só se preocuparam em arrecadar mais receitas, ignoraram a qualidade do serviço e o apoio ao turista”. O transporte profissional de passageiros, adianta, “está mais dificultado e o preço do estacionamento disparou”.
O grupo parlamentar do PCP, nas perguntas que dirigiu ao Governo, relaciona as novas regras impostas no acesso ao aeroporto de Faro, com a venda da ANA - Aeroportos de Portugal à francesa Vinci. A medida, com o único objectivo de maximizar os seus lucros, sublinham os deputados, “ameaça todas as actividades económicas a montante e a jusante da actividade aeroportuária”.
A empresa, através do seu gabinete de comunicação, defende-se alegando que as alterações efecuadas em Faro se integram num “conceito muito praticado em outros aeroportos da Europa e do mundo, o Kiss & Fly”. Além disso, acrescenta, “este foi um processo exemplar de diálogo com todas as partes interessadas, de participação e inclusão”.
O presidente da Região de Turismo do Algarve, Desidério Silva, reconhece existir “alguma conflitualidade de interesses”, mas desvaloriza as críticas. “Tenho procurado sensibilizar as entidades para os problemas que têm surgido, nomeadamente o secretário de Estados dos Transportes, Sérgio Monteiro, e as coisas têm-se vindo a resolver”.
Escritório colectivo em contentor
Descontentes estão também as pequenas agências de aluguer de viaturas que não têm instalações no aeroporto. Para que possam continuar a exercer a sua actividade foi-lhes facultado um contentor que serve de escritório colectivo para 40 empresas do ramo, montado no parque de estacionamento.
“É este o cartão-de-visita que queremos dar do Algarve?”, pergunta Luís Francisco, da empresa LuzCar, referindo-se às condições de trabalho oferecidas pelo aeroporto.
Os profissionais acotovelam-se num balcão corrido, com os clientes em fila, a aguardar para fazerem os contratos de aluguer das viaturas. Ao fim da tarde, o sol bate de chapa nos rostos de pele clara, acabados de pousar. No ar cruzam-se palavras pronunciadas em inglês entrecruzadas com uma algaraviada de outros sons.
No meio do cordão de pessoas, uma mulher pergunta onde pode encontrar um casa de banho? O empregado da empresa de rent-a-car, responde: “Tem de voltar para trás, só no aeroporto”. O gesto que faz, a apontar o sítio, é sublinhado com um “sorry”, a desculpar-se pela eventual decepção.
A informação é recebida com um agradecimento e um sorriso amarelo. “Nós quando estamos enrascados, vamos ao WC da bomba de gasolina [fora do parque] mas naturalmente não vamos mandar para lá os clientes”, explica Luís Francisco, queixando-se da precariedade das instalações.
O deputado do PCP Paulo Sá, eleito pelo distrito de Faro, diz que a “fúria” das cobranças por parta da Vinci, vem desde o passado mês de Março, quando foi imposta uma taxa de 17 euros por cada viatura alugada no aeroporto. Com os protestos dos agentes económicos e pressão política a taxa acabou por ser reduzida para nove euros, permitindo o parqueamento durante uma hora. A partir daí custa mais um euro, por cada fracção de 15 minutos.