Mais de 80% dos passageiros da TAP conseguiram chegar ao destino
Dirigente sindical diz que a exigência de uma percentagem do capital da empresa no processo de privatização já não faz parte das reivindicações imediatas dos pilotos.
A informação data de uma altura, o meio da tarde, em que já tinham descolado ou ficado em terra três quartos de todas as ligações aéreas do dia, que eram pouco mais de 300. Nas declarações que produziu ao longo do dia, e quando confrontado com a expectativa de uma adesão à paralisação da ordem dos 90%, o director do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), Hélder Santinhos, disse que essa percentagem se referia aos profissionais sindicalizados, e que há 300 pilotos que o não são. Entre os sindicalizados a taxa de adesão prevista "está a verificar-se", assegurou.
Questionado na TVI sobre se estava em cima da mesa a demissão da direcção do sindicato perante a fraca adesão à greve, respondeu que não. E desvalorizou o elevado número de ligações efectuadas, referindo que havia muitos aviões fora da base e que todos os regressos a Lisboa faziam parte dos serviços mínimos. Para o dirigente sindical, as negociações com a empresa fracassaram "porque eram uma farsa da administração da TAP, que propunha o pagamento de diuturnidades de agora até dez anos", o que considerou "uma tentativa de enganar os pilotos". Questionado sobre a hipótese de reatar as negociações, afirmou que o sindicato está aberto a negociar. Porém, “as portas estão fechadas por parte do Governo", que quer "entregar ao [sector] privado" uma empresa valorizada em 200 milhões de euros à custa dos trabalhadores.
Antes, em entrevista à Antena 1, explicou que a exigência de uma percentagem do capital da empresa no processo de privatização já não faz parte das reivindicações imediatas dos pilotos: “Nas negociações que tivemos, essa questão está ultrapassada. Será discutida num momento posterior. Continuamos a acreditar que temos o legítimo direito, não digo a 10 ou 20%, mas a serem reconhecidos os salários de que abdicámos para termos essa participação. No entanto, já admitimos discutir essa questão em momento posterior, até para não prejudicar o actual processo de privatização.”
Segundo o último ponto da situação da greve feito pela TAP, até à hora do lanche tinham-se realizado 164 voos, número que incluía as ligações obrigatórias por causa dos serviços mínimos, tendo sido cancelados 72. Pires de Lima explicou que todos os voos de longo curso se efectuaram. “Não há memória de uma greve decretada pelo sindicato dos pilotos ter este nível de trabalho”, observou, antes de apelar a estes profissionais para que “continuem a trabalhar e aumentem o número de voos”, uma vez que a paralisação durará dez dias.
“Os pilotos que vieram trabalhar esta sexta-feira não fizeram nenhum favor ao Governo”, declarou também o ministro da Economia. “Virem trabalhar não significa que apoiem o Governo, ou que estejam a favor da privatização — mas que estão genuinamente preocupados com a economia do país e com o futuro da TAP.”
O vice-primeiro-ministro Paulo Portas mostrou-se igualmente agradecido para com os pilotos que entraram no cockpit para levar os passageiros ao seu destino: "Não há direito, tanta falta de consideração pela economia do país, pela vida dos clientes da empresa, pelos passageiros, pelo turismo, pelos colegas da própria TAP, que não são apenas os pilotos. Como português, agradeço aos pilotos que estão a fazer a TAP voar. Não são fura-greves, são salva-empresas", afirmou.
A situação na TAP mereceu também comentários por parte do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, à margem das comemorações do 1.º de Maio. Mesmo admitindo que faz um juízo crítico em relação à reivindicação da participação dos pilotos no capital da empresa, disse que a greve não pode desviar as atenções da responsabilidade do Governo neste conflito, ao anunciar a privatização. “Porque estão a financiar as low cost e não financiam a TAP para se poder reestruturar? Quando, no Verão passado, foram cancelados centenas de voos por actos de má gestão, alguém ouviu o Governo piar?”, interrogou.
A adesão à paralisação foi maior na Portugália do que na TAP, facto que surpreendeu a administração da transportadora uma vez que a reposição de diuturnidades e o cumprimento do acordo de 1999, que deu aos pilotos direito a uma participação no capital da empresa no âmbito da privatização, são reivindicações que não se aplicam, segundo uma porta-voz da transportadora, à Portugália. Assim, do total de 72 voos cancelados até às 17h, apenas 31 eram da TAP e os restantes 41 da Portugália. A TAP conseguiu realizar 83% dos voos que tinha programados até essa hora, contra apenas 21% da Portugália.
Dados avançados pela transportadora referem que se a greve tivesse sido cancelada na véspera, quinta-feira, às 20h, o prejuízo contabilizado em reservas perdidas seria, mesmo assim, de 7,5 milhões de euros. Números divulgados anteriormente pela TAP davam conta de pelo menos três mil cancelamentos efectuados só para o primeiro dia de greve. com Maria João Lopes e Lusa