Quanto durará o modelo de Lee?

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Singapura perdeu o “pai da nação”. Lee Kuan Yew, 91 anos, morreu na segunda-feira. Governou a cidade-estado de 1959 a 1990 e tutelou-a durante o resto da vida. Inventou o “modelo de Singapura” e, com um país de 700 km2 e um milhão e meio de habitantes na altura da independência (1965), ajudou a moldar a Ásia contemporânea. Foi um visionário. Fez propaganda dos “valores asiáticos”, de inspiração confuciana, e foi, ao mesmo tempo, um impulsionador da ocidentalização. “Um mundo que necessita de criar ordem a partir do caos sentirá a sua falta”, lamenta Henry Kissinger. Serviu de “conselheiro geopolítico” a dirigentes ocidentais e chineses.

Nos anos 1950, Lee fez o diagnóstico de Singapura. Tinha um único trunfo, a localização no estratégico estreito de Malaca. Não tinha recursos naturais nem uma identidade comum. Estava ameaçada por conflitos étnicos entre a maioria chinesa e a minoria malaia. Era uma cidade pobre, marcada por tráficos e pela malária. Numa geração, a população mais que triplicou e o rendimento per capita passou de 500 para 55.000 dólares, ultrapassando o Japão e os Estados Unidos.

Ao contrário da opção colectivista da China e da Índia, Lee apostou no capitalismo e na internacionalização da economia, num sistema de educação de alta qualidade e na supressão da corrupção, pagando altíssimos salários ao funcionalismo e impondo uma meritocracia radical. Singapura é uma floresta de arranha-céus. Para lá de um grande entreposto comercial, é um centro financeiro mundial e a “capital intelectual” do Sueste Asiático. Tem o melhor “clima de negócios” do planeta, diz o Banco Mundial.

O milagre tem um reverso e um preço: o autoritarismo. O partido fundado por Lee ganha sempre as eleições e tem um monopólio do poder. Os media são controlados ou censurados. As leis e a polícia impõem uma rigorosa disciplina social. O contrato social é simples: um povo rico não tem interesse em se revoltar.

Singapura inspirou a modernização capitalista da China. A nova legitimidade do Partido Comunista Chinês reside na garantia da prosperidade e da ordem. O Presidente Xi Jinping sublinhou que a modernização da China foi inegavelmente marcada “pelas dezenas de milhares de quadros chineses que foram enviados a Singapura para estudar o modelo de Lee”. Quanto tempo durará o “modelo”? Lee teve a lucidez de reconhecer que o modelo não será eterno e terá de mudar. Não disse como.

De origem chinesa, Lee estudou em Cambridge. A mulher também. Ela teve um AVC devastador. Deixou de comunicar. Enquanto viveu, todas as noites Lee lhe fazia longas leituras. Não de Confúcio. Mas Lewis Carrol, Jane Austen, os sonetos de Shakespeare. 

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