Crânio pré-histórico pode ser peça-chave do puzzle da história humana
O fóssil data de uma altura em que a nossa espécie se terá efectivamente cruzado – e terá procriado – com os neandertais.
Trata-se da parte superior do crânio (ou seja, sem face nem maxilares) e foi desenterrada na gruta de Manot, na Galileia Ocidental. As técnicas de datação permitiram determinar que o crânio tem cerca de 55.000 anos de idade, ou seja que data de um período em que se pensa que elementos da nossa espécie estavam a emigrar de África.
Ainda segundo estes cientistas, as características do crânio sugerem que terá pertencido a um parente próximo dos primeiros Homo sapiens (que, mais tarde, colonizariam a Europa). Por isso, a equipa considera que o crânio representa a primeira prova concreta de que o Homo sapiens viveu naquela região ao mesmo tempo que os neandertais.
Para Hershkovitz, o crânio é “uma peça importante no puzzle da grande história da evolução humana”. Terá pertencido a uma mulher, embora não seja possível dizer ao certo.
Com base na genética, já se pensava que a nossa espécie e os neandertais terão procriado aproximadamente durante o período representado pelo crânio. É por isso que todas as populações de origem euroasiática ainda são portadoras, no seu genoma, de ADN de neandertal.
“Temos aqui a primeira prova fóssil directa de que os humanos modernos e os neandertais viveram na mesma área ao mesmo tempo”, diz o co-autor e paleontólogo Bruce Latimer, da Universidade Case Western Reserve (EUA). “A coexistência destas duas populações numa região geográfica confinada, aliada ao facto que os modelos genéticos indicarem que houve cruzamento entre as duas espécies, abona em favor da ideia de que esse cruzamento ocorreu no Levante”, diz Hershkovitz.
Os neandertais, robustos e de sobrolho maciço, prosperaram na Europa e na Ásia há uns 350.000 a 40.000 anos, tendo-se extinguido pouco depois da chegada dos Homo sapiens. Quanto à nossa espécie, os especialistas pensam que terá surgido há uns 200.000 anos em África, tendo mais tarde migrado para outros locais.
A gruta de Manot situa-se à beira da única rota terrestre que os antigos humanos poderiam ter percorrido para viajar de África até ao Médio Oriente, Europa e Ásia. Permaneceu vedada durante 300.000 anos e foi descoberta em 2008 durante a construção de canalizações de esgoto. Armas de caça, conchas perfuradas, talvez usadas como ornamentos, e ossos de animais já foram desenterrados na gruta juntamente com outras ossadas humanas.