Portugal com fortes expectativas no sector feminino em Zurique

A 22.ª edição dos Campeonatos da Europa arranca nesta terça-feira, na Suíça. Pelo menos uma medalha é o objectivo traçado pela federação, mas uma das maiores comitivas portuguesas permite pensar em outros voos.

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Ana Dulce Félix durante a maratona olímpica no último Verão, em Londres Andrew Cowie/AFP

O panorama hodierno do atletismo é, porém, muito diferente do do século passado e hoje muitas das maiores figuras do atletismo mundial não são europeias, o que relativiza, de certa maneira, a importância dos campeonatos. Para além do mais, esta é a primeira edição que se realiza a partir do momento em que a competição passou de quadrienal para bienal, o que se verificou no ano olímpico de Londres 2012.
Esses 21.ºs Europeus não tiveram em disputa — e assim se manterá para o futuro — as provas mais longas fora do estádio, as de marcha e a maratona, devido à proximidade dos Jogos. Agora elas voltam ao programa, sendo muito importantes para as aspirações da selecção portuguesa.

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O panorama hodierno do atletismo é, porém, muito diferente do do século passado e hoje muitas das maiores figuras do atletismo mundial não são europeias, o que relativiza, de certa maneira, a importância dos campeonatos. Para além do mais, esta é a primeira edição que se realiza a partir do momento em que a competição passou de quadrienal para bienal, o que se verificou no ano olímpico de Londres 2012.
Esses 21.ºs Europeus não tiveram em disputa — e assim se manterá para o futuro — as provas mais longas fora do estádio, as de marcha e a maratona, devido à proximidade dos Jogos. Agora elas voltam ao programa, sendo muito importantes para as aspirações da selecção portuguesa.

Portugal apresenta-se em Zurique com uma das suas maiores delegacões de sempre, composta por 44 atletas, exactamente repartidos entre homens e mulheres (ver caixa), e acredita-se que não irá sair da Suíça de mãos a abanar no que respeita a medalhas. Aliás, a presença portuguesa foi sempre muito discreta até aos anos 1980, mas quando Rosa Mota abriu o livro, com um triunfo na maratona (em Atenas 1982), as cores lusas só não subiram ao lugar mais alto do pódio em Barcelona 2010.

Desta vez, apesar de a federação portuguesa não querer colocar a fasquia muito alta, falando apenas em “uma medalha, ao menos”, a verdade é que as expectativas são muitas, geradas sobretudo no sector feminino.

Ana Dulce Félix, por exemplo, entra já nesta terça-feira numa das duas finais deste primeiro dia, a de 10.000m, e vai tentar renovar o título conquistado há dois anos, em Helsínquia. Tem feito boas provas nos 5000m e aparece em boa condição — de entre as outas rivais, as que têm melhores marcas não as valem na actualidade. Poderá ser mesmo outra das três portuguesas na final, concretamente Sara Moreira, a “apertá-la”. Após maternidade no final do ano passado, Sara está a recuperar a melhor forma e, na Taça da Europa da distância, já se aproximou dos 32 minutos, e terá as suas possibilidades.

Outra das grandes figuras dos 10.000m em campeonatos anteriores, Jéssica Augusto, irá estar desta vez na maratona, na companhia de Marisa Barros, Doroteia Peixoto e Filomena Costa. Em subida de novo aos níveis olímpicos de 2012, Jéssica bateu o seu máximo pessoal na maratona de Londres, em Abril, com 2h24m25s, e parte como clara favorita, a par da italiana Valeria Straneo, vice-campeã mundial no ano passado, que detém o melhor máximo pessoal (2h23m44s) das inscritas.

Os primeiros cinco títulos europeus na maratona feminina vieram direitinhos para Portugal, os três primeiros para o Porto, por Rosa Mota (1982, 1986 e 1990), os dois seguintes para Viana do Castelo, por Manuela Machado (1994 e 1998). Seria histórico se o caminho da Suíça se refizesse para as mesmas paragens agora, por uma atleta com fortes raízes na Invicta, apesar de nascida em Paris.

Patrícia Mamona é outra das figuras possíveis da selecção lusa. Vice-campeã no triplo salto há dois anos, em Helsínquia, com o seu recorde nacional de 14,52m, está também em boa forma e gosta da pressão das maiores competições. Após o quarto lugar nos Mundiais indoor de Sopot, em Março, igualou com 14,36m ao ar livre a sua melhor marca do ano e pode aproveitar uma temporada global um pouco abaixo da média — apenas a russa Ekaterina Koneva (14,89m) está ao melhor nível.

E, depois, há Ana Cabecinha, nos 20km marcha. As russas (Alembekova, Kirdyapkina e Sokolova) são sempre as maiores favoritas e aparentemente intocáveis, mas resta saber se o trio não será afectado pelos recorrentes problemas de supensão que têm vitimado algumas marchadoras no país.

Marco Fortes à espreita no peso
Dos 44 atletas que Portugal enviou a Zurique, as maiores esperanças concentram-se no sector feminino, mas também a formação masculina terá as suas armas. E nenhuma das principais pode ser considerada secreta. Nesta sexta-feira haverá uma possibilidade de final para Marco Fortes, no lançamento do peso.

Uma vez mais se realiza a qualificação de manhã e a final à tarde e Fortes será um outsider, se passar esse crivo qualificativo. Só terá no alemão David Storl um adversário intocável, e ele é um (21,01m) de apenas cinco homens acima de 21m este ano.

João Vieira tentará repetir a proeza dos últimos dois Europeus com provas longas, em 2006 e 2010, quando arrancou medalhas de bronze nos 20km marcha. O veterano originário de Portimão, mesmo aos 38 anos, não será uma carta fora do baralho, como mostrou no ano passado quando foi quarto nos Mundiais de Moscovo. João competirá na companhia do irmão Sérgio Vieira.

Nelson Évora é a outra maior figura da equipa. Perdão: ele é a figura da equipa. Mas como bem realçou à partida para a Suíça, ainda em Abril andava de canadianas, na sequência das cirurgias a que se submeteu, e nada pode prometer. O que é certo é que também no lado masculino o triplo está em maré baixa e Nelson, se chegar à final, poderá arriscar, e aí mesmo uma medalha não é impensável. Dos inscritos, nesta época só quatro passaram 17m, e apenas o russo Lyukman Adams (17,29m) por uma margem substancial. O português já se acercou dos 17m (16,97m), em Paris, a 5 de Julho.

Programa de sexta-feira
9h04 - Lançamento do peso masculino (qualificação)
9h11 - Decatlo (100m)
9h30 - Salto em altura feminino (qualificação)
9h35 - 1500m femininos
9h50 - Lançamento do dardo feminino (qualificação)
10h - 400m barreiras masculino
10h35 - Decatlo (salto em comprimento)
10h42 - 100m femininos (eliminatória)
11h16 - Lançamento do dardo feminino (qualificação)
11h20 - 3000m obstáculos masculino (eliminatória)
11h46 - 400m masculino (eliminatória)
12h05 - Decatlo (lançamento do peso)
12h12 - Triplo salto masculino (qualificação)
12h30 - 100m barreiras feminino (eliminatórias)
16h15 - Lançamento do disco masculino (qualificação)
16h20 - Salto em altura (decatlo) 
17h - 400m feminino (eliminatória)
17h28 - 100m masculino (eliminatória)
18h05 - 800m masculino (eliminatória)
18h34 - Lançamento do peso masculino (final)
18h42 - Decatlo (400m)
19h07 - Salto em comprimento feminino (qualificação)
19h10 - 10.000m femininos (final)
19h56 - 100m barreiras femininos (meias-finais)