Carlos Moedas e a Ética Política
Fugir o mais depressa possível, de preferência para uma posição internacional extraordinariamente bem remunerada, sem pagar impostos em Portugal, e se possível com uma reforma milionária. Alguns ex-ministros seguiram já este figurino, nomeadamente os das controversas pastas económicas e financeiras.
Infelizmente não foram necessários muitos dias para que se comprovasse a importância das minhas palavras. A recente nomeação do secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, para comissário europeu mostra bem como Portugal tem de mudar. E como os portugueses têm de ser muito mais exigentes.
De facto, aprende-se desde cedo na escola que o capitão é o último a abandonar o barco quando este está a afundar-se. Este tipo de atitude é intemporal e atravessa todas as civilizações da humanidade e por uma razão muito simples: o capitão de um navio, como o administrador de uma empresa, o cirurgião-chefe ou qualquer líder de qualquer organização deve dar um exemplo de integridade e determinação, para ser respeitado e para se fazer respeitar.Em Portugal, pelos vistos, a cultura da nossa classe política (pelo menos de uma parte) é diferente. Fugir o mais depressa possível, de preferência para uma posição internacional extraordinariamente bem remunerada, sem pagar impostos em Portugal, e se possível com uma reforma milionária. Alguns ex-ministros seguiram já este figurino, nomeadamente os das controversas pastas económicas e financeiras.
Porém, o caso de Carlos Moedas parece-me ainda mais complexo. Não existiu nenhuma crise política na coligação, nenhuma contestação popular excecional, nenhuma quebra de relação com o primeiro-ministro. Trata-se apenas de abandonar o Governo à sua sorte sem se responsabilizar nas eleições. Sobretudo por parte de um membro do Governo envolvido nas negociações do programa de ajustamento, programa que fustigou especialmente os mais fracos e vulneráveis da sociedade: os pensionistas, os reformados, os doentes crónicos, entre muitos outros. Mas a gravidade desta situação não se deve apenas à atitude em si própria. Deve-se também ao exemplo que dá aos mais novos, nomeadamente às juventudes partidárias.
Em suma, e tal como eu havia sugerido, é mesmo necessário uma nova ética política. E só através de eleitores mais exigentes é que uma nova cultura política será uma realidade.
Professor, fundador do Fórum Democracia e Sociedade – Uma Agenda para Portugal