Rui Rio e a ética política

Não espanta que Rui Rio seja dos raros políticos portugueses que assumem publicamente esta posição. E percebe-se porquê. Este tipo de atitude, a que já habituou o povo português ao longo das duas últimas décadas, surge do seu perfil pessoal e do modo como encara a atividade política. A ação de Rui Rio pauta-se, a meu ver, por três caraterísticas essenciais: integridade, determinação e sensibilidade social. Caraterísticas que são essenciais para o exercício de funções públicas, quaisquer que estas sejam.

A enorme crise social e económica que Portugal atravessa exige determinação e coragem para enfrentar interesses estabelecidos e para implementar as reformas necessárias para a modernização do nosso país. Só alguém que pautou toda a sua vida por uma integridade pessoal inquestionável pode associar esta determinação ao imperativo moral de defender os mais fracos e vulneráveis da nossa sociedade. E de exigir igualdade de tratamento entre os ricos e os pobres, nomeadamente face ao sistema judicial. 

Por isso, não espanta que, apesar do nítido desconforto de alguns governantes com a intervenção cívica de Rui Rio – intervenção em consonância com um conjunto de valores e de princípios há muito perdidos na nossa sociedade –, o antigo autarca do Porto seja aclamado por todo o território nacional na expetativa de que se inicie um novo ciclo político verdadeiramente reformador.  

De facto, não é por acaso que o país está profundamente indignado com 40 anos de democracia. Os mais jovens, que não viveram sequer o período revolucionário, interrogam-se sobre a natureza de um regime político que os força a emigrar, apesar das suas elevadas qualificações. Os reformados são sistematicamente desrespeitados apesar do enorme esforço que fizeram toda a sua vida. Não obstante a inegável evolução em muitos setores de atividade, tal como a educação, a ciência ou a saúde, existe um descontentamento geral sobre o modo como funcionam as nossas instituições e sobre a qualidade da maioria dos agentes políticos.

Para que o regime político democrático não sofra qualquer sobressalto é necessária uma nova ética na política. E, naturalmente, é forçoso que surjam protagonistas que a possam interpretar.

Professor, Fundador do Fórum Democracia e Sociedade – Uma Agenda para Portugal

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