“Amazonas” é um dos guardiões da segurança na Copa

Navio de patrulha oceânica já efectuou mais de mil abordagens desde o início do Mundial nas águas brasileiras e o PÚBLICO foi a bordo acompanhar como tudo se processa. A segurança do torneio já custou 660 milhões de euros aos cofres federais.

Desta vez foi tudo a fingir: um simulacro carregado de dramatismo para exibir à comunicação social. Mas, desde o último dia 28 de Maio, altura em que arrancou a operação de defesa para a Copa do Mundo, o “Amazonas” já somou 1081 abordagens, “à séria”, ao largo das costas estaduais do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. No total, foram notificadas 236 embarcações e apreendidas 36, por problemas de documentação, falta de material de segurança ou outro tipo de ilegalidades. Para já, nada de demasiado grave, comparável a ameaças terroristas, transporte de armamento ou tráfico de drogas.

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Desta vez foi tudo a fingir: um simulacro carregado de dramatismo para exibir à comunicação social. Mas, desde o último dia 28 de Maio, altura em que arrancou a operação de defesa para a Copa do Mundo, o “Amazonas” já somou 1081 abordagens, “à séria”, ao largo das costas estaduais do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. No total, foram notificadas 236 embarcações e apreendidas 36, por problemas de documentação, falta de material de segurança ou outro tipo de ilegalidades. Para já, nada de demasiado grave, comparável a ameaças terroristas, transporte de armamento ou tráfico de drogas.

“Com a Copa, estas acções de vigilância foram intensificadas, com mais de duas dezenas de vasos de guerra envolvidos, que seguem pormenorizadamente as rotas de todos os navios que entram no nosso raio de acção”, explicou ao PÚBLICO o capitão-de-fragata Álvaro Lemos, na messe de oficiais, instantes antes do início do simulacro. Normalmente, quando não estão a ocorrer eventos internacionais relevantes no Rio de Janeiro, a principal missão desta frota passa essencialmente pelo patrulhamento da Zona Económica Exclusiva, com particular incidência nas áreas onde estão instaladas plataformas petrolíferas e reservas de pré-sal (gás e petróleo, localizadas em áreas profundas do Oceano Atlântico), assim como a prevenção de potenciais ameaças ambientais ou pirataria.

“A nossa tripulação é treinada para este tipo de acções e está preparada para fazer abordagens diurnas e nocturnas a qualquer navio que represente um risco à segurança ou aos interesses económicos brasileiros”, garantiu o capitão do “Amazonas”, um navio adquirido pela Marinha em 2012. Curiosamente, uma das ameaças mais comuns ao funcionamento das plataformas petrolíferas, resulta da pesca ilegal. “Junto das estruturas submersas da maioria das plataformas a vida marítima é muito rica, o que atrai embarcações pesqueiras para a zona. Enquanto permanecem nas proximidades, por razões de segurança, toda a actividade de extracção de petróleo é interrompida acarretando graves prejuízos. A nossa missão passa também por localizar e afastar este tipo de embarcações dessas zonas nevrálgicas”, explicou.

O Mundial de futebol e as partidas realizadas no Rio de Janeiro, alteraram drasticamente toda esta rotina. “Quando são disputados jogos no Maracanã, os navios ficam no mar o tempo todo, cobrindo uma área que vai de Maricá à Barra da Tijuca [numa extensão costeira de aproximadamente 90 quilómetros] ”, pormenorizou Álvaro Lemos. E quais são os riscos potenciais que podem chegar pelo mar? “A aproximação de embarcações mal-intencionadas junto de hotéis onde estão instaladas delegações políticas, membros da FIFA e selecções que disputam o torneio. Praticamente todos os edifícios em causa estão localizados na orla costeira.” O transporte de armamento para um eventual atentado está no topo das preocupações.

“Ganhámos alguma experiência neste tipo de operações durante a visita papal, na Jornada Mundial da Juventude [23 a 28 de Julho de 2013], mas também na Copa das Confederações [15 a 30 de Junho de 2013]. O actual procedimento servirá de modelo para os Jogos Olímpicos do Rio de 2016”, antecipou o capitão-de-fragata. No conjunto, a Marinha destacou especificamente para este Mundial 20 navios e 60 embarcações de pequeno porte.

Mobilizados 57 mil militares
A Marinha é apenas um dos ramos das Forças Armadas brasileiras em acção nesta Copa, que envolve ainda, de forma integrada, o Exército e a Força Aérea. No total, foram mobilizados 57 mil militares para garantir a segurança do evento, maioritariamente distribuídos pelas 12 cidades que acolheram a competição e por outros locais onde as selecções instalaram os seus quartéis-generais.

Cada cidade-sede conta também com um grupo especializado em defesa química, biológica, radiológica e nuclear, treinado para responder a ameaças terroristas. De prevenção, até ao final do torneio, estão ainda 21 mil efectivos, que entrarão em acção apenas no caso de esgotamento das capacidades das forças de segurança pública e se a sua intervenção vier a ser solicitada pelos governos estaduais e devidamente autorizada pela presidente Dilma Rousseff.

As experiências no Mundial da África do Sul, em 2010, e dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012, foram acompanhadas de perto por observadores militares brasileiros e serviram de exemplo para montar o actual esquema de segurança na Copa. Para tal, o Governo federal investiu aproximadamente 709 milhões de reais (235 milhões de euros), nos últimos dois anos, na preparação e modernização das suas Forças Armadas.

Mas os custos com a segurança não foram canalizados apenas para a instituição castrense. As autoridades de Manaus, por exemplo, para garantir a segurança das selecções da Inglaterra e dos EUA (nas partidas frente à Itália e a Portugal, respectivamente), investiram perto de 100 milhões de reais (33 milhões de euros). Em termos globais e segundo dados oficiais, o orçamento com a segurança da Copa brasileira atingiu os dois mil milhões de reais (660 milhões de euros), distribuídos entre os ministérios da Defesa e da Justiça.