Dispositivo electrónico permite a doente paralisado mexer os seus músculos com o pensamento
Pela primeira vez, um homem paralisado conseguiu mexer a mão e os dedos graças a uma autêntica espinal medula “virtual” – um bypass electrónico directo entre o seu cérebro e o seu braço.
Burkhart, que há quatro anos sofreu um acidente de viação que lhe provocou uma lesão irreparável da espinal medula, utilizou um novo dispositivo, baptizado Neurobridge e desenvolvido por uma equipa conjunta daquela universidade norte-americana e do Instituto Batelle, entidade privada sem fins lucrativos que promove a inovação tecnológica nos EUA. É o primeiro de cinco potenciais participantes num pequeno ensaio clínico do Neurobridge.
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Burkhart, que há quatro anos sofreu um acidente de viação que lhe provocou uma lesão irreparável da espinal medula, utilizou um novo dispositivo, baptizado Neurobridge e desenvolvido por uma equipa conjunta daquela universidade norte-americana e do Instituto Batelle, entidade privada sem fins lucrativos que promove a inovação tecnológica nos EUA. É o primeiro de cinco potenciais participantes num pequeno ensaio clínico do Neurobridge.
Já existem alguns exemplos de experiências com pessoas paralisadas em que estas conseguiram comandar com a mente, através de um computador, os movimentos de um braço robotizado. Um dos mais espectaculares, anunciado em Maio de 2012, foi o caso de uma mulher, que ficou tetraplégica na sequência de um AVC, e que conseguiu assim, pela primeira vez em mais de 15 anos, beber sem ajuda o café contido num cantil.
Mas agora, foi o próprio braço da pessoa que foi accionado pelos impulsos nervosos vindos do seu cérebro. “[O Neurobrige] é muito semelhante a um bypass cardíaco, mas em vez de reencaminharmos sangue, estamos de facto a reencaminhar sinais eléctricos”, diz Chad Bouton, do Batelle, citado no mesmo documento. “Estamos a pegar nos sinais cerebrais e a fazer com que contornem a lesão e cheguem directamente aos músculos."
No passado mês de Abril, neurocirurgiões do centro médico da já referida universidade implantaram, no córtex cerebral motor de Burkhart, um circuito microelectrónico mais pequeno do que uma ervilha, destinado a interpretar os sinais cerebrais e transmiti-los a um computador, lê-se ainda no comunicado. O computador recodifica então os sinais e reenvia-os para uma série de electrodos integrados numa “manga” estimuladora de alta-definição, que estimula os músculos certos de forma a fazer com que a mão execute os movimentos que Burkhart pretende executar.
O sistema – incluindo algoritmos, software, implante, manga – levou quase uma década a ser desenvolvido.
A transformação do pensamento em acção motora demora um décimo de segundo. O processo é mais lento do que se o sinal passasse pela espinal medula – mas mesmo assim, poderá um dia vir a transformar a vida dos doentes paralisados na sequência de traumatismos ou acidentes cerebrais, prevêem os cientistas, permitindo-lhes uma maior autonomia.
“Há anos que faço reabilitação e este é um passo em frente tremendo em termos do que podemos oferecer a esses doentes”, diz Jerry Mysiw, um dos médicos envolvidos.