PS diz que Presidente fez discurso de "excepção de crítica"
Em declarações aos jornalistas no Parlamento, Alberto Martins assinalou que Cavaco Silva foi crítico da situação dos pensionistas e que apontou a necessidade de fazer a reforma do Estado “não no sentido dos cortes”. Quanto ao apelo ao consenso lançado por Cavaco Silva, Alberto Martins sublinhou que para o PS “o consenso é a defesa do Estado social”. A declaração sobre as “vistas curtas” da acção política significa “pensar uma política de controlo orçamental só pode ficar na austeridade”.
O apelo ao consenso lançado por Cavaco Silva (e também pelos partidos da maioria) foi lido pelo PCP e pelo BE como uma aproximação à “alternância”. “Democracia também é alternativa”, respondeu Jerónimo de Sousa, secretário-geral do PCP. O líder comunista criticou a “preocupação social” do Presidente “se tem ratificado e aprovado essa política”. Quanto à referência ao cerco à Assembleia da República, em Novembro de 1975, feita pelo Presidente, Jerónimo de Sousa não poupou críticas: “Foi um desabafo reaccionário”.
Catarina Martins, coordenadora do BE, também respondeu negativamente ao apelo ao consenso de Cavaco Silva. “Abril fez-se pela possibilidade de escolha e é pela alternativa e não pela alternância”, afirmou. A deputada concordou, no entanto, com Cavaco Silva quando o Presidente elegeu o combate à corrupção como prioridade. “Um escândalo como o BPN que foi levado a cabo pela elite cavaquista esteja impune”, afirmou.
Os deputados da maioria fizeram outra leitura das palavras do Presidente. Pedro Pinto, vice-presidente do PSD, disse ser uma intervenção “esperada”. “Faz a diferença do país face ao passado”, afirmou, recusando qualquer ataque de Cavaco Silva aos partidos da maioria. “Não há ataque, há chamada de atenção que é feita a todos os partidos”, disse.
Nuno Magalhães, líder da bancada do CDS, disse não rever-se na afirmação das “vistas curtas da acção política” e prefere assinalar outros pontos do discurso presidencial. “O que eu mais retenho é um fortíssimo apelo ao compromisso entre as forças políticas”, afirmou, sublinhando ideias-chave como a recuperação da autonomia, com o fim do resgate, o combate ao desemprego e uma administração pública que seja “contida”.
O antigo Presidente da Assembleia da República, Almeida Santos, considerou que o Presidente da República ficou “mais isolado” depois do discurso desta sexta-feira. Porquê? “Teve muitas palmas de um partido único e nenhumas de outros”, justificou.