Estudo sobre correntes do Pacífico confirma história de homem que ficou 13 meses à deriva
José Salvador Alvarenga esteve 13 meses à deriva no seu barco no oceano Pacífico. Chegou às ilhas Marshall no final de Janeiro com uma história que levantou dúvidas.
“As afirmações de Alvarenga, de que esteve 13 meses à deriva e veio do México, estão de acordo com os limites do modelo e são consistentes com os padrões prevalentes dos ventos e das correntes oceânicas que ocorreram durante a provação que sofreu”, concluiu o estudo, citado pela AFP. O trabalho foi feito pela Universidade do Havai de Manoa.
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“As afirmações de Alvarenga, de que esteve 13 meses à deriva e veio do México, estão de acordo com os limites do modelo e são consistentes com os padrões prevalentes dos ventos e das correntes oceânicas que ocorreram durante a provação que sofreu”, concluiu o estudo, citado pela AFP. O trabalho foi feito pela Universidade do Havai de Manoa.
De acordo com as suas declarações, a trágica viagem do pescador de 37 anos começou em Dezembro de 2012, quando saiu para o mar com o seu companheiro de pesca, Ezekiel, com 24 anos. José Salvador Alvarenga saiu de barco a partir de uma aldeia piscatória na província de Chiapas, no sudoeste do México. Numa noite, o motor do barco de sete metros deixou de funcionar, contaria muitos meses depois o pescador, e o trajecto do barco terá ficado dependente das correntes marítimas.
Segundo José Salvador Alvarenga, Ezekiel rejeitou alimentar-se da carne crua e passados poucos meses morreu de inanição. “Durante quatro dias [após a morte de Ezekiel] quis matar-me”, disse o mexicano ao jornal britânico The Telegraph. “Mas não consegui sentir essa vontade — não quis sentir a dor. Não fui capaz”, confessou o homem, que foi notícia muitas vezes nos últimos dias. “Tinha a mente em Deus. Se morresse, estaria com Deus. Por isso não tive medo… Imagino que esta seja uma história incrível para as pessoas.”
Depois de andar a viajar à deriva entre 10.000 e 12.500 quilómetros, o seu barco acabou por dar à costa do atol de Ebon, que pertence ao arquipélago das Marshall. Quando chegou à costa, tinha apenas vestido umas cuecas rotas e tinha uma longa barba por fazer. Mas, além da desidratação, do cansaço e das consequências de uma grande provação mental, não estava especialmente debilitado.
Segundo o estudo norte-americano, o modelo mostra que um objecto que fosse apanhado pelas correntes a 370 quilómetros da aldeia de Alvarenga, em Dezembro de 2012, atingiria o atol de Ebon (ou até 193 quilómetros de distância) a 31 de Janeiro. Os parâmetros do modelo foram desenhados a partir dos padrões reais do lixo produzido no Japão durante o tsunami de 2011.
“A experiência com os barcos de pesca revirados pelo tsunami que alcançaram a costa do Havai ano e meio a dois anos e meio mais tarde serviram-nos para usar parâmetros realistas para o modelo que simulou o barco de pescador que veio à deriva do México”, disse Jan Hafner, um dos autores do estudo, do Centro Internacional de Investigação do Pacífico que pertence à Universidade do Havai.
Entretanto, José Salvador Alvarenga já foi levado de volta para o seu país natal, El Salvador, um pequeno estado na costa oeste da América Central, que fica a sul do México. Agora, quer descanso e deseja estar longe das câmaras.
“Quero estar sozinho com a minha família. Devem-me dar tempo para só falar depois de ter recuperado, porque neste momento não tenho capacidade para explicar o que quer que seja”, disse num vídeo enviado à imprensa, na quarta-feira passada, a partir da sua cama de hospital, citado pelo jornal britânico The Guardian.
“É isso que estou a pedir, que me deixem em paz, para que possa recuperar, que não chateiem a minha família, para assim eu poder ficar bem. Não quero mais nada além disso.”