Este Fernando é um pândego
Realmente, é divertidíssimo fazer imposturas, propagar falsidades e falsificar identidades. Este Fernando é um pândego!
E porquê? Porque com uma candura quase comovente, e à boleia de uma tese de mestrado de 30 páginas apresentada em Vigo (confesso que fiquei cheio de vontade de ir estudar para a Galiza), sob o título (convém inspirar antes) A Comunicação Política Digital nas Eleições Directas de 2010 no PSD pelo candidato Pedro Passos Coelho, resolveu meter a boca no trombone e explicar tintim por tintim como o actual primeiro-ministro chegou à liderança do PSD com o auxílio da blogosfera, e como os bloggers que lhe eram fiéis se dedicaram a uma campanha de “informação e contra-informação”, sendo depois recompensados com lugares nos gabinetes de imprensa do Governo.
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E porquê? Porque com uma candura quase comovente, e à boleia de uma tese de mestrado de 30 páginas apresentada em Vigo (confesso que fiquei cheio de vontade de ir estudar para a Galiza), sob o título (convém inspirar antes) A Comunicação Política Digital nas Eleições Directas de 2010 no PSD pelo candidato Pedro Passos Coelho, resolveu meter a boca no trombone e explicar tintim por tintim como o actual primeiro-ministro chegou à liderança do PSD com o auxílio da blogosfera, e como os bloggers que lhe eram fiéis se dedicaram a uma campanha de “informação e contra-informação”, sendo depois recompensados com lugares nos gabinetes de imprensa do Governo.
De tudo isto, na verdade, já se desconfiava, mas tem um outro gostinho ver confirmado assim, preto no branco. Fernando Moreira de Sá não terá feito muitos amigos com a entrevista, e duvido que ela o tenha promovido como “consultor de comunicação” e “rosto das empresas” Comunicatessen (será um trocadilho com o filme Delicatessen?) e Callaecia (o nome da antiga província romana que incluía a Galiza e o Norte de Portugal, não sei se estão a ver). Mas valeu a pena pela inside information, com nomes e moradas, que independentemente de ser intencional ou acidental é sempre esclarecedora.
E esclarecedora não só por nos clarificar a estratégia de Passos numa altura em que os jornalistas ainda não dominavam “os truques e artimanhas do spin digital” (palavras do consultor), mas sobretudo pela aparente incapacidade de Fernando Moreira de Sá em distinguir “informação” e “contra-informação”. Para ele, é tudo a mesma coisa, irmãs gémeas, duas palavras que andam em comboio, como se fizessem parte do mesmo processo de comunicação. Já que se está a informar, aproveita-se e contra-informa-se um bocadinho.
Permitam-me esta citação um pouco mais longa da entrevista: “Em 2011, o Sócrates foi ao Fórum da TSF. Decidimos entalá-lo e descredibilizar a coisa, exagerando nos elogios. Deu um bruaá enorme. O director da TSF teve de se explicae por causa das críticas dos ouvintes, que consideraram aquilo uma coisa do tipo Deus no céu e Sócrates na terra. Deu-nos um gozo tremendo!” Ah, ah, ah, que história tão gira! Realmente, é divertidíssimo fazer imposturas, propagar falsidades e falsificar identidades. Este Fernando é um pândego!
E um pândego – lá está – emblemático de uma certa maneira de pensar, e de uma total falta de escrúpulos na hora de obter os resultados que interessam. Como imaginam, eu não sou propriamente amigo de José Sócrates, e o blogue Câmara Corporativa permanece ainda hoje como um excelente retrato do seu consulado à frente do país. Mas misturar tudo na mesma lama e na mesma amoralidade é a imagem perfeita do nosso centrão e dos seus consultores, para quem amplificar a verdade ou propagar uma mentira são as duas faces de um mesmo trabalho. Obrigado, Fernando Moreira de Sá. Obrigado pelo acesso privilegiado ao nojo.