RTP vai transmitir óperas e concertos do São Carlos e bailados da CNB
Protocolo assinado esta terça-feira entre RTP e o OPArt, que agrega o Teatro de São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado, levará ao ecrã óperas, concertos e bailados. O primeiro evento será o Concerto de Ano Novo.
O primeiro evento será o Concerto de Ano Novo, que a RTP2 transmitirá em directo, estipula o texto do protocolo assinado esta terça-feira e a que o PÚBLICO teve acesso. O concerto vai realizar-se no Teatro Nacional de São Carlos e integrará a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos.
Depois, o restante calendário será acertado entre o novo consultor artístico, Paolo Pinamonti, e os responsáveis editoriais da estação pública, quando as temporadas artísticas estiverem definidas. Estão incluídos também neste acordo os espectáculos da Orquestra Sinfónica Portuguesa e da Companhia Nacional de Bailado (CNB), que funciona no Teatro Camões.
Esta parceria entre a RTP e o Teatro Nacional de São Carlos (TNSC) foi assinada esta terça-feira e não implica quaisquer encargos financeiros para as duas partes. O teatro fornece os conteúdos e a RTP divulga-os em antena, através de publicidade institucional, e transmite-os nos dois canais de sinal aberto, nas antenas internacionais, na internet ou na rádio, como aliás já faz há vários anos através da Antena 2.
Mas está quase tudo em aberto ainda. O protocolo pretende "estimular a colaboração entre as duas entidades através de transmissões em directo ou em diferido, produção de programas musicais ou outros que se inscrevam no âmbito da actividade da OPArt e a sua difusão nos canais de televisão em particular da 2 e através das antenas de rádio da RTP nomeadamente da Antena 2". O acordo é válido por ano e renova-se automaticamente a menos que uma das partes queira desistir.
Recorde-se que a proposta do gabinete de Miguel Poiares Maduro para o novo contrato de concessão de serviço público prevê que a RTP2 passe a ser um canal de “forte componente cultural”.
A outra vantagem desta associação do São Carlos à RTP é que os concertos e bailados a realizar ou já realizados naquela sala – o único teatro nacional de ópera no país - poderão igualmente passar a estar disponíveis nas plataformas da RTP na internet, através do vídeo-on-demand. A RTP tem no seu arquivo muitos espectáculos produzidos pelo São Carlos que vão ser alvo de análise para depois serem disponibilizados gratuitamente no site da estação pública.
“Há conteúdos por explorar”
O protocolo agora assinado levou um ano a ser levado para o papel e diz respeito a concertos de câmara, concertos sinfónicos, óperas e bailados – ou seja, à programação formal do TNSC. Mas o administrador João Villa-Lobos disse ao PÚBLICO que a parceria pode e deve “ser mais abrangente” e acrescenta à lista alguns “conteúdos por explorar” como é o caso dos making of e backstage de algumas produções – que a RTP2 já chegou a transmitir - ou até algo em torno do diário da vida de um músico.
“Isto é levar mais longe o serviço público, tanto do teatro como da RTP” e pretende também captar mais espectadores para aquele teatro, argumenta Villa-Lobos. O administrador acrescenta que quase tudo o que se passa no São Carlos ou mesmo as actividades diversas como os espectáculos de rua e os ateliers para crianças, é passível de se transformar em conteúdo televisivo.
A intenção, reconhece o secretário de Estado da Cultura presente na assinatura do protocolo, é levar a programação do Teatro de São Carlos a um “auditório o mais alargado possível” e a RTP é uma “grande oportunidade” para o concretizar. Até pela abrangência que os canais internacionais da RTP e da RDP proporcionam, lembrou o presidente da empresa. Alberto da Ponte disse que a parceria começa com o Concerto de Ano Novo e além dos eventos a realizar, será enriquecida com o espólio sobre o São Carlos existente no arquivo da RTP.
“A formação de novos públicos para o TNSC é uma das nossas prioridades e para isso a relação com outros organismos públicos, como é o caso agora da RTP, é fundamental”, acrescenta João Villa-Lobos. A selecção dos conteúdos que serão transmitidos é um trabalho para Pinamonti discutir com a TV e rádio públicas. Os direitos televisivos são sempre partilhados.
Paolo Pinamonti foi nomeado em Setembro como consultor artístico do São Carlos, ao mesmo tempo que Joana Carneiro foi nomeada maestrina titular da OSP – nomes que trazem uma chancela de qualidade ao TNSC, realça o administrador. O TNSC continua, no entanto, sem director artístico, estando à espera que a tutela decida também a estratégia institucional a seguir, depois de o processo de fusão de todos os teatros nacionais, Cinemateca e CNB ordenado pelo Governo socialista ter ficado suspenso. Para já, Villa-Lobos considera que o convite a Pinamonti “tapa essa necessidade de director artístico”.
Poiares Maduro e La Traviata
Quando o São Carlos divulgou a temporada para o segundo semestre deste ano, anunciou também o projecto de editar, entre 2014 e 2019, pelo menos 12 DVD de espectáculos antigos que estão no arquivo da RTP. A selecção das obras a editar será feita pelo barítono e antigo director da Orquestra Nacional do Porto e do Instituto das Artes, Jorge Vaz de Carvalho. Para já, há um incontornável, para assinalar os 20 anos da Orquestra Sinfónica Portuguesa, que passam este ano, e que subiu ao palco do São Carlos pela mão do encenador Graham Vick, na primeira vez que Paolo Pinamonti foi director do teatro: O Anel dos Nibelungos.
Na assinatura do protocolo, o ministro Miguel Poiares Maduro, que tutela a RTP, disse que esta parceria se enquadra nos “objectivos estratégicos” que pretende para o serviço público de TV e rádio: “ser regulador e dinamizador da qualidade do audiovisual, e ser promotor da cultura portuguesa no mundo”. E é também a “materialização da aposta do serviço público na cultura”. Recordando a ópera de Verdi La Traviata interpretada no São Carlos, em 1958, por Maria Callas e Alfredo Kraus, que está no arquivo da RTP, o ministro desejou que se retome a tradição de serviço público das duas instituições – ainda que, reconheceu, não a tão alto nível.