FMI revê em baixa para 3,5% o crescimento potencial do Brasil
"Estas estimativas estão sujeitas a uma considerável incerteza", admitem os técnicos.
Na análise que faz ao Brasil ao abrigo do artigo IV, um relatório de análise anual da economia de todos os países membros do FMI, os técnicos afirmam que "o futuro crescimento sustentável do Brasil é de cerca de 3,5%, mais ou menos 0,75 pontos percentuais abaixo do que tem sido previsto pelos técnicos nos últimos anos" e acrescentam que "para atingir este crescimento potencial, o Brasil precisa de acelerar o investimento, incluindo as infra-estruturas, e aumentar a produtividade para níveis maiores do que os recentemente alcançados".
O crescimento potencial é um conceito económico que estima o máximo que um país pode aumentar a sua riqueza sem incorrer em nenhuma distorção do mercado nem permitir valores de inflação acima ou abaixo do desejado, ou seja, é o máximo que um país pode crescer utilizando de forma eficiente todos os seus recursos.
Para a próxima década, o FMI prevê que o mercado laboral apresente melhorias, mas para isso será determinante a acumulação de capital e o aumento da produtividade.
"As projecções assumem que as poupanças externas vão financiar parte das necessidades de investimento do Brasil, que a poupança interna vai aumentar ligeiramente, mas mantendo-se em níveis baixos, e que o Governo vai conseguir implementar o programa de investimentos em infra-estruturas e que isso terá um efeito positivo na produtividade geral”, afirma o relatório.
"Estas estimativas estão sujeitas a uma considerável incerteza", admitem os técnicos, que avisam que "se o Brasil não conseguir aumentar a produtividade, os riscos para o crescimento a longo prazo podem fazer com que os valores efectivos fiquem abaixo da revisão em baixa agora apresentada".
A apresentação do relatório, que só ocorre com a aprovação do país em causa, foi sendo adiada devido a divergências entre o Brasil e o FMI sobre a avaliação da economia. De acordo com a imprensa brasileira, o secretário de Política Económica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland, inicia nesta quinta-feira em Washington um conjunto de reuniões para demonstrar que o valor da dívida pública bruta do Brasil é de 59,3% e não 68,3%, como defende o FMI.
No princípio deste mês, o FMI já tinha revisto em baixa as previsões de crescimento do Brasil para o próximo ano, estimando agora que a economia brasileira cresça 2,5%, quando em Julho previa um aumento do PIB de 3,2% em 2014.
Segundo o World Economic Outlook, divulgado a 08 deste mês, o Brasil vai aumentar o seu Produto Interno Bruto em 2,5% este ano, o que significa que os técnicos do Fundo mantiveram a previsão para este ano, face ao que tinham previsto em Julho.
"A recuperação no Brasil deverá continuar num ritmo moderado, alicerçada na depreciação da taxa de câmbio, numa aceleração do consumo e [na implementação de] políticas destinadas a aumentar o investimento", escrevem os técnicos do Fundo, sublinhando que a aceleração económica prevista para este e para o próximo ano não está, no entanto, isenta de riscos.