Capa da Rolling Stone com Djokhar Tsarnaev gera controvérsia
Redes sociais inundadas com comentários negativos pela publicação de fotografia do jovem de 19 anos acusado pelo ataque à bomba na Maratona de Boston.
Para ilustrar um perfil de Djokhar Tsarnaev, que na semana passada se declarou inocente na primeira audiência judicial do seu caso, a revista foi buscar uma fotografia publicada pelo próprio na sua página de Facebook, e que já tinha sido utilizada anteriormente pelo jornal The New York Times.
Trata-se de um retrato frontal, em que Djokhar aparece encostado a uma parede, com o cabelo despenteado e o olhar vago, numa pose similar àquela que ficou imortalizada pelo vocalista dos The Doors, Jim Morrison, numa outra capa famosa daquela revista de actualidades especialmente vocacionada para as artes e espectáculos.
A página da Rolling Stone no Facebook foi inundada de críticas e comentários negativos, denunciando o alegado “desrespeito” pelas vítimas do ataque de Boston – “Jeff Bauman, que ficou sem as duas pernas, é que devia estar na capa” – e ainda a suposta “glorificação” do terrorismo. “Como se atrevem a transformar um bombista numa estrela de rock?”, pergunta um leitor.
Alguns dos comentários consideram a capa de “mau gosto” e outros são menos diplomáticos ao declarar a fotografia “um nojo”. Para o radialista Ted Stryker trata-se de uma “escolha estúpida, horrível e sem classe” da Rolling Stone, e a banda de Boston Dropkick Murphys, que doou 300 mil dólares para um fundo de apoio às vítimas do ataque, disse que a revista “devia ter vergonha”. No Twitter há apelos ao boicote à revista, que chega às bancas esta sexta-feira.
Djokhar Tsarnaev estava gravemente ferido quando foi detido a 19 de Abril, depois de uma caça ao homem que paralisou a cidade de Boston, três dias depois de a detonação de duas bombas de fabrico artesanal junto à linha da meta da Maratona de Boston ter provocado três mortos e mais de 260 feridos. Foi formalmente acusado dos crimes de homicídio e uso de arma de destruição maciça e enfrenta a pena de morte em caso de condenação.
O artigo de capa, da jornalista Janet Reitman, tem o título “O bombista: como um estudante promissor e popular foi abandonado pela família, cedeu ao islão radical e se tornou um monstro”. O texto explora o isolamento de Djokhar, depois de s seus pais (de origem tchetchena) terem deixado os Estados Unidos, a deterioração da sua relação com as duas irmãs e a crescente influência exercida pelo seu irmão mais velho Tamerlan – o alegado cabecilha do atentado de Boston e que foi morto num tiroteio com a polícia – nos meses anteriores ao ataque.
Amigos e colegas de Djokhar, também conhecido pelo diminutivo "Jahar", recordam a Reitman a desconfiança que sentia em relação ao irmão mais velho, que, segundo alega o artigo, terá iniciado a sua radicalização por volta de 2008, depois de a mãe o instigar a procurar respostas no islão para a sua instabilidade emocional e uma cura para os seus “demónios internos”.
Um dos amigos citados lembra uma conversa com Djokhar em que este criticou a política externa dos Estados Unidos “contra os muçulmanos” como uma possível justificação para os atentados terroristas de 11 de Setembro. Um outro diz que, apesar de Jahar não fazer grande alarde das suas crenças, não apreciava que se falasse do islão de forma casual. “Ele levava a religião muito a sério”, garante o amigo.