Associação Alzheimer lança espaços de encontro para pessoas com demência

Projecto Café Memória arranca em Lisboa para fomentar convívio e troca de experiências entre doentes, familiares e prestadores de cuidados de saúde.

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Reino Unido, Holanda e Bélgica são alguns países onde já existem iniciativas do mesmo tipo Foto: Daniel Rocha
O projecto, de nome Café Memória, arranca já no próximo sábado, entre as 9h e as 11h, no Centro Comercial Colombo, em Lisboa.

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O projecto, de nome Café Memória, arranca já no próximo sábado, entre as 9h e as 11h, no Centro Comercial Colombo, em Lisboa.

Parte integrante do Cuidar Melhor, programa de apoio aos cuidadores de pessoas com demência, o Café Memória tem o apoio de vários parceiros empresariais e institucionais como a Fundação Calouste Gulbenkian e o Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa. As sessões acontecem nos primeiros sábados de cada mês no Colombo e nos terceiros sábados no Centro Comercial CascaiShopping, em Cascais, sempre entre as 9h e as 11h.

Catarina Alvarez, coordenadora do projecto, sublinha que este o mesmo não tem fins clínicos. O Café Memória pretende sim ser “um espaço de encontro, acolhedor e reservado” para partilha de experiências, mas também com uma fonte de “suporte emocional e de informação” para pessoas com problemas de memória, familiares e prestadores de cuidados ou pessoas interessadas no assunto.

A proposta partiu de um desafio da Sonae Sierra — empresa do grupo Sonae, proprietário do PÚBLICO — à Alzheimer Portugal. “Constatámos que em Portugal não existe nenhuma estrutura de apoio que permita informar, apoiar socialmente e viabilizar a integração destas pessoas numa vida mais ou menos normal da sociedade”, diz Elsa Monteiro, directora de Sustentabilidade da empresa.

Para além do estigma que considera ainda existir relativamente a estas doenças, Elsa Monteiro acredita que “o resto da sociedade também não está informada, não sabe lidar e tem algum receio de conviver com esta situação”.

O conceito do Memory Café é conhecido desde 2000 no Reino Unido — país que reúne já cerca de 60 — e está inserido na estratégia de resposta social do plano nacional britânico para as demências, elaborado em 2009. Em Portugal não existe ainda um plano do mesmo tipo.

“É evidente que um dos objectivos deste projecto é sensibilizar a comunidade mas também sensibilizar a classe política para a relevância deste tema”, reitera Catarina Alvarez.

Viver com a doença

Maria do Rosário dos Reis, da Alzheimer Portugal, considera que “este tipo de iniciativas é muito importante para combater o isolamento social em que estas pessoas vivem”. “As pessoas têm imensa necessidade de partilhar o que sentem, costumam retrair-se muito — não basta já o afastamento natural dos amigos, vizinhos ou familiares. Elas próprias sentem um desconforto enorme porque é muito difícil lidar com a situação”, disse ao PÚBLICO na apresentação do projecto.

Escolhida como embaixadora do Café Memória, Margarida Pinto Correia considera, tendo em conta o impacto que este tipo de patologias tem na vida dos doentes e daqueles que os rodeiam, ser “muito importante que o país tenha esta oportunidade” através desta iniciativa.

“Eu acredito que é uma questão de dever cívico, quando podemos partilhar e normalizar a vida dos outros, porque há muita gente isolada e há muitos cuidadores aflitos sem saberem o que fazer e a sentirem-se um horror. Partilhar é sempre mais fácil”, diz a embaixadora, reiterando que é preciso “encontrar as ferramentas para abrir estas janelas”.

Durante a apresentação do projecto, Alexandre Castro Caldas, médico e professor no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, admitiu que esta iniciativa poderá trazer benefícios a nível da saúde, por proporcionar mais tranquilidade aos doentes e aos prestadores de cuidados.

“Não estamos à espera que estas pessoas vão melhorar das suas doenças. Vão melhorar é a forma de viver com as suas doenças, quer os familiares, quer os doentes, e isto vai reduzir enormemente o consumo de saúde, vão gastar menos saúde”, afirma.

Castro Caldas reconhece ainda que os exercícios e actividades lúdicas poderão surtir efeito na medida em que a manutenção cognitiva é necessária a um bom funcionamento cerebral. Mesmo não melhorando a sua condição clínica, estes exercícios poderão auxiliar a que “não se deteriorem mais”.

Segundo dados da Alzheimer Portugal, estima-se que existam cerca de 153 mil portugueses com demência e outros 90 mil com doença de Alzheimer. “Ainda são precisos muitos cafés”, conclui o médico.