Nova biografia de Unamuno na colecção Espanhóis Eminentes
Miguel de Unamuno (1864-1936) foi "um homem de contrastes", resume o seu mais recente biógrafo, o escritor e professor de literatura espanhola Jon Juaristi, que descreve o autor de O Sentimento Trágico da Vida como alguém "absolutamente exemplar e carinhoso na sua vida familiar", mas que era também "um neurótico típico" e um homem "muito tacanho e de poucos amigos". Segundo volume da colecção de biografias Espanhóis Eminentes, que a editora Taurus está a publicar com o apoio da Fundação Juan March - o primeiro foi dedicado a outro escritor da geração literária dita de 98, Pío Baroja -, este retrato de Unamuno, no qual Juaristi trabalhou vários anos, pretende menos propor uma nova síntese do pensador do que acentuar as suas contradições, quer enquanto escritor, quer na sua relação com a conturbada política do seu tempo. "Transitou do nacionalismo basco para o elogio da monarquia, mas não tardou a opor-se a Afonso XIII e a Primo de Rivera, e veio também a afastar-se da II República, quando era visto como um dos seus pais fundadores", exemplifica Juaristi, que, tal como Unamuno, é natural de Bilbau, onde nasceu em 1951.
Javier Gomá, director da Fundação Juan March, justifica o lançamento desta colecção com o desejo de suprir a debilidade do género na bibliografia espanhola, que não possui biografias de qualidade, e devidamente actualizadas, de muitos dos seus autores mais importantes. Ironizando com a distância que, neste capítulo, separa a Espanha do mundo anglo-saxónico, Gomá brinca: "Se vamos à procura de uma biografia de Margaret Thatcher, o mais certo é encontrarmos também outras três do seu cão, e mais duas do psiquiatra dele".
Ficcionista, poeta, dramaturgo, pedagogo, filósofo - chamava "irmão" a Kierkegaard e aprendeu dinamarquês para o poder ler no original -, Miguel de Unamuno não teria o talento lírico de Antonio Machado ou o génio teatral de Ramón del Valle-Inclán, que aliás lhe deve bastante, mas talvez tenha sido a mais completa das personalidades literárias da geração de 98. E foi seguramente a que manteve relações mais estreitas com a cultura portuguesa: correspondente de Teixeira de Pascoaes e Manuel Laranjeira, deve-se-lhe a célebre caracterização dos portugueses como um "povo de suicidas", proposta numa época que assistira aos suicídios de Antero de Quental e Camilo, de Mouzinho de Albuquerque e de Soares dos Reis.