“Doze Homens em Fúria” (“12 Angry Men”), de Sidney Lumet (1957)

Quem, num júri de desconhecidos fechados numa sala de onde a maioria tem pressa de sair, se atreveria a impedir uma votação unânime para expor um ponto de vista, uma impressão, diferente dos outros 11?

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Parece redundante, hoje em dia, procurar a companhia de pessoas furiosas, quando elas são tantas, por todo o lado – em casa, na rua, no trabalho, no desemprego, nas repartições de Finanças – mas é sempre curioso descobrir que as há ou houve por outras razões que não o empobrecimento rápido e forçado dos cidadãos para pagar as contas caóticas do Estado. As de que fala o filme de que falamos hoje são as 12 – apenas homens – que têm por dever reunir-se numa sala de tribunal, em Nova Iorque, para decidir se um rapaz de 18 anos é culpado de ter assassinado o próprio pai, condenando-o, se for essa a decisão, à morte na cadeira eléctrica.

O caso é simples, a decisão será rápida, prática, impessoal, burocrática, cada um cumprirá o seu dever ou, pelo menos, obterá a sensação do dever cumprido e seguirá a sua vida, excepto, muito provavelmente, o primeiro interessado nos resultados do procedimento, ou seja, o que lhe sofrerá as consequências. E seria assim – como, normalmente, é – se não houvesse um obstáculo: um dos 12, apenas um, que não está convencido da aparente simplicidade do caso nem da ligeireza com que se pode mandar legalmente matar alguém. E pede alguns minutos de ponderação e de partilha das dúvidas que na sua consciência subsistem, antes da condenação que parece inevitável daquele jovem criminoso ou inocente.

Mas quem, num júri de desconhecidos fechados numa sala de onde a maioria tem pressa de sair, se atreveria a impedir uma votação unânime para expor um ponto de vista, uma impressão, diferente dos outros 11? Não se trata de se pôr à frente de um tanque de guerra nem de correr em campo aberto debaixo de fogo inimigo, mas quem se atreveria? E quem é esse homem? E que acção pode ter sobre os outros?

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É essa descoberta gradual que é fascinante. Anulado o factor de distracção em regra introduzido pelo cenário, restam os tipos humanos em presença, ora em conjugação, ora em oposição, representados por cada um dos homens. E não é nada fácil filmá-los e coreografá-los num espaço exíguo, de modo a não toldar esse exercício de observação, conservando uma naturalidade essencial para o todo funcionar, dando espaço e pretexto aos actores para desempenharem os seus papéis. E é o que eles fazem e o que nós temos para ver, através de um conjunto de caras que podemos muito bem conhecer de outros filmes e séries da época, algumas até de “eternos secundários”, mas que aqui partilham o mesmo plano, o mesmo palco: Henry Fonda, Lee J. Cobb, Ed Begley, E. G. Marshall, Jack Warden, Martin Balsam, Jack Klugman, John Fiedler, Joseph Sweeney, Robert Webber, Edward Binns e George Voskovec, aqui ordenados pela relevância que atribuo às suas respectivas carreiras.

Além do elenco, note-se o argumento e a direcção de actores.

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