O Meu Maior Desejo
Depois de Ninguém Sabe (2004), momento de graça cinematográfico que se pôs ao lado de um grupo de crianças entregues a si próprias, abandonadas pela mãe, isoladas do mundo dos adultos, Hirokazu Kore-eda passou a filmar a coabitação: em Andando, de 2008, e agora em O Meu Maior Desejo, crianças e adultos são dois “tempos” num mesmo espaço, aquilo que uns vão ser, aquilo que outros já foram, o cansaço de uns como horizonte para outros - é que, apesar da ternura com que Kore-eda filma os adultos, é gente cansada, flutuante, que perdeu. E é também como se, deixando o mundo de exclusão para captar as interacções, o cinema de Hirokazu Kore-eda perdesse recorte, alguma da sua energia poética e se dobrasse a compromissos e flutuações. Na verdade, os diferentes “tempos”, o das crianças e o dos adultos, atrapalham-se. Não se contornam facilidades (o pai perdido, mais infantil que a sua criança e por ela “educado”). A música, excessivamente presente, faz figura de bengala para empurrar a narrativa e sublinhar o que devemos sentir. Ficámos com mais dificuldade em isolar o perfil de Hirokazu Kore-eda: várias vezes nos lembramos do Takeshi Kitano de Os Rapazes Regressam (1996) e de O Verão de Kikujiro (1999), mas se ao menos Kore-eda tivesse a naiveté guerrilheira do outro japonês.
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Depois de Ninguém Sabe (2004), momento de graça cinematográfico que se pôs ao lado de um grupo de crianças entregues a si próprias, abandonadas pela mãe, isoladas do mundo dos adultos, Hirokazu Kore-eda passou a filmar a coabitação: em Andando, de 2008, e agora em O Meu Maior Desejo, crianças e adultos são dois “tempos” num mesmo espaço, aquilo que uns vão ser, aquilo que outros já foram, o cansaço de uns como horizonte para outros - é que, apesar da ternura com que Kore-eda filma os adultos, é gente cansada, flutuante, que perdeu. E é também como se, deixando o mundo de exclusão para captar as interacções, o cinema de Hirokazu Kore-eda perdesse recorte, alguma da sua energia poética e se dobrasse a compromissos e flutuações. Na verdade, os diferentes “tempos”, o das crianças e o dos adultos, atrapalham-se. Não se contornam facilidades (o pai perdido, mais infantil que a sua criança e por ela “educado”). A música, excessivamente presente, faz figura de bengala para empurrar a narrativa e sublinhar o que devemos sentir. Ficámos com mais dificuldade em isolar o perfil de Hirokazu Kore-eda: várias vezes nos lembramos do Takeshi Kitano de Os Rapazes Regressam (1996) e de O Verão de Kikujiro (1999), mas se ao menos Kore-eda tivesse a naiveté guerrilheira do outro japonês.