Yara Monteiro é a convidada do Encontro de Leituras de Junho

O romance Essa Dama Bate Bué! estará em foco na próxima sessão do clube de leitura do PÚBLICO e da Folha de S. Paulo, marcada para dia 14. Raça, identidade, passado colonial e a participação das mulheres na luta armada angolana são alguns dos temas deste livro, que acompanha a viagem de autodescoberta de Vitória, a protagonista.

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Yara Monteiro nasceu em Angola mas cresceu em Portugal, onde a família refez a sua vida Nuno Ferreira Santos

A escritora angolana Yara Nakahanda Monteiro é a convidada do próximo Encontro de Leituras, que terá lugar a 14 de Junho, às 22h de Lisboa (18h em Brasília). Em foco estará o seu primeiro romance, Essa Dama Bate Bué!, publicado em Portugal pela Guerra e Paz, em 2018, e no Brasil pela editora Todavia, em 2021. Esta sessão do clube de leitura do PÚBLICO e da Folha de S. Paulo acontecerá no Zoom, como habitualmente, aberta a todos os que queiram participar. A ID é a 863 4569 9958 e a senha de acesso 553074.

O título do livro, Essa Dama Bate Bué!, vem de um rap que Yara Nakahanda Monteiro escreveu em homenagem a Luanda, como contou ao PÚBLICO em 2018. O romance que aborda temas como a raça, a identidade, o passado colonial e a participação das mulheres na luta armada angolana é também uma viagem de autodescoberta, nomeadamente no campo sexual. Conta-nos a vida de Vitória, nascida em Angola, criada pelos avós em Portugal, que regressa ao país onde nasceu à procura da mãe. Vitória “chega a uma Luanda do começo do século XXI, caótica, de flagrantes contrastes sociais”, como resume a editora portuguesa.

“Vitória anda pelo mundo da juventude urbana de elite que estuda no estrangeiro, pelas organizações não-governamentais, pelas discotecas e bares, pelas ruas caóticas de trânsito onde as zungueiras vendem o que podem e os meninos andam de mão esticada sem terem o que comer; anda, enfim, pelo caos de uma cidade desigual. Observa-a com ‘os clichés de quem visita Luanda pela primeira vez’, como diz a páginas tantas. O fito é sempre o mesmo, conhecer a mãe que a abandonou”, resumia Joana Gorjão Henriques no Ípsilon aquando da publicação do livro em Portugal. “Vitória é também a neta de um homem assimilado que se considera ‘acima de tudo português’. E quando vai em busca da sua origem confronta-se com a memória de facções opostas na família e sobretudo de uma mãe — Rosa Chitula — que, quando se insurge contra o colonialismo, está a afrontar o pai.”

Este primeiro livro de Yara Monteiro – no ano passado publicou o livro de poemas Memórias, Aparições, Arritmias (ed. Companhia das Letras Portugal) é uma “ficção adaptada de uma realidade”, como a escritora, formada em recursos humanos, costuma dizer. Não se trata de um espelho da biografia da autora, mas há um “paralelo” entre a sua vida e a vida da sua personagem, pois tanto uma como a outra, já adultas, regressaram para conhecer as suas raízes. Embora Vitória vá a Angola em busca da sua mãe, ex-combatente da luta armada, o que não é o caso da escritora, que já viveu em Luanda, Londres, Copenhaga, Atenas e no Rio de Janeiro.

Yara Nakahanda Monteiro costuma dizer que nasceu em Angola, renasceu em Portugal e mais tarde voltou a renascer no Brasil, onde se descobriu como mulher e como negra. Natural de Huambo, no planalto central de Angola, onde veio ao mundo em 1979 num contexto de guerra civil, cresceu em Portugal, na margem sul do Tejo.

A sua família é angolana e portuguesa e já estava em Angola há pelo menos três gerações quando fugiu da guerra e se refugiou em Portugal, para reiniciar a vida. Entre as personagens deste romance estão Romena Cambissa, que recebe Vitória em Luanda; Zacarias Vindu, general envolvido no tráfico de armas, que declama poesia, e Juliana Tijamba, que fez a guerra civil com a mãe da protagonista.

“Romena Cambissa aparece na sala acompanhada de duas mulheres negras. Apresenta-as como sendo Josefa e Mariela. São mãe e filha. Ambas baixas e escanzeladas. (…) Cada uma usa uma bata cinzenta. Preso à bata e à volta da cintura, um avental branco. O traje é uma cópia modesta dos uniformes das empregadas domésticas das famílias chiques das telenovelas brasileiras. Estão ambas descalças. Têm os pequenos pés grossos e largos. A textura da pele é dura. Talvez se tenha tornado carapaça para os proteger. Têm um cabelo encarapinhado, curto e desalinhado. Só os cabelos brancos as diferenciam. Josefa cozinha e Mariela limpa. A história da mãe Josefa é já a vida da filha Mariela.”

O Encontro de Leituras junta leitores de língua portuguesa uma vez por mês e discute romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literário, na presença de um escritor, editor ou especialista convidado. É moderado pela jornalista Isabel Coutinho, responsável pelo site do PÚBLICO dedicado aos livros, o Leituras, e pelo jornalista da Folha de S. Paulo Eduardo Sombini, apresentador do Ilustríssima Conversa, podcast de livros de não-ficção.

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