Gonçalo M. Tavares conquistou o maior prémio literário do Brasil

O Prémio Portugal Telecom, de 39 mil euros, foi atribuído por unanimidade ao romance Jerusalém, que já tinha vencido o Ler Millennium BCP, em 2004, e o José Saramago, em 2005

a O romance Jerusalém, do escritor português Gonçalo M. Tavares, é o vencedor da quinta edição do Prémio Portugal Telecom de Literatura, o maior prémio literário atribuído no Brasil. O anúncio da obra premiada foi feito ontem de madrugada, em São Paulo, tendo o segundo e terceiro lugares sido atribuídos, respectivamente, a Macho Não Ganha Flor, do brasileiro Dalton Trevisan (autor que vencera ex aequo a primeira edição do prémio, em 2003, com Pico na Veia), e a História Natural da Ditadura, do também brasileiro Teixeira Coelho.Gonçalo M. Tavares recebeu, assim, um prémio de cerca de 39 mil euros e logo na primeira edição em que o galardão, antes atribuído exclusivamente a autores brasileiros, foi aberto a todos os livros de língua portuguesa que tenham sido publicados no Brasil no ano anterior ao da atribuição. Da lista de finalistas faziam ainda parte, entre outros, Bom Dia Camaradas, do angolano Ondjaki, O Outro Pé da Sereia, do moçambicano Mia Couto, ou Cantigas do Falso Alfonso El Sábio, do brasileiro Affonso Ávila, que já este ano tinha conquistado, na categoria Poesia, o conceituado Prémio Jabuti.
Selma Caetano, curadora do júri que seleccionou as dez obras finalistas, sublinhou, em declarações ao P2, que o prémio foi atribuído por unanimidade, considerando que Jerusalém "é uma importante reflexão sobre a condição humana". "Trata-se de um romance sobre a ausência da felicidade, sobre a dor e a capacidade dos homens de conviver e sobreviver a ela", disse.
Três prémios, 114 mil euros
Jerusalém tinha já ganho, em 2004, o Prémio Ler Millennium BCP (50 mil euros) e, em 2005, o Prémio José Saramago (25 mil euros), transformando-se, assim, num dos livros mais premiados de sempre da literatura portuguesa. Somados os três prémios, Jerusalém já rendeu 114 mil euros a Gonçalo M. Tavares, montante que supera o valor do Prémio Camões (100 mil euros).
O romance de Tavares, que foi publicado em Portugal no final de 2004 pelo Círculo de Leitores, tendo feito, depois disso, mais cinco edições na Caminho, esteve ainda nomeado para dois prémios literários em Itália, e tinha já sido considerado um dos melhores do ano passado pelo jornal brasileiro A Folha de S. Paulo. Em 2008 deverá ser editado em Espanha.
Ao receber o prémio, na cerimónia em São Paulo, Gonçalo M. Tavares defendeu, segundo a agência Reuters, que a existência de grandes editoras que actuem em toda a comunidade de língua portuguesa é mais importante para a preservação do idioma do que a reforma ortográfica que está em debate. "A ortografia não é o mais importante. O mais importante é ter orgulho e falar português", disse, acrescentando que o galardão lhe permitirá conquistar tempo para escrever. "Tenho três filhos. Isso [o prémio] em iogurte e leite se vai", ironizou Tavares, citado na edição online do jornal O Globo.
16 livros desde 2001
Nascido em Luanda em 1970, Gonçalo M. Tavares publicou o primeiro livro em 2001. Após Livro da Dança lançou mais 15 obras, da poesia ao ensaio, tendo já este ano conquistado o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco, da Associação Portuguesa de Escritores/Câmara Municipal de Famalicão, com Água, Cão, Cavalo, Cabeça. Antes, o autor, que vive em Lisboa, conquistara o Prémio Branquinho da Fonseca da Fundação Calouste Gulbenkian e do jornal Expresso com a obra O Senhor Valéry (Caminho) e o Prémio Revelação de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, com Investigações. Novalis (Difel).

Sugerir correcção