Cientistas avisam que doença de Creutzfeldt-Jakob pode afectar mais pessoas
A investigação, publicada pela revista médica britânica "The Lancet", revela o caso de um paciente com doença de Creutzfeldt-Jakob que possui uma estrutura genética diferente da dos outros afectados. Até agora, os médicos pensavam que as pessoas mais susceptíveis de contrair esta doença neurovegetativa eram as que tinham mais genes homozigóticos do prião, causador da doença tanto nos seres humanos como nos animais.
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A investigação, publicada pela revista médica britânica "The Lancet", revela o caso de um paciente com doença de Creutzfeldt-Jakob que possui uma estrutura genética diferente da dos outros afectados. Até agora, os médicos pensavam que as pessoas mais susceptíveis de contrair esta doença neurovegetativa eram as que tinham mais genes homozigóticos do prião, causador da doença tanto nos seres humanos como nos animais.
A maioria dos afectados pela doença até agora apresentava esta estrutura genética, comum a 37 por cento da população, pelo que se julgava ser este o grupo de maior risco. Mas o último caso investigado - uma pessoa idosa infectada por uma transfusão de sangue - levanta dúvidas sobre esta teoria, na medida em que a vítima, em vez de dois genes pares, tinha dois genes heterozigóticos do prião.
Isto significa que poderão estar infectadas mais pessoas do que em princípio se julgava, e que estas não terão sido ainda detectadas por haver nestes casos um período de incubação mais longo. "Esta descoberta tem implicações importantes em futuras estimativas de casos de Creutzfeldt-Jakob no Reino Unido, dados que as pessoas com esse genotipo (heterozigótico) integram o maior subgrupo genético da população", assinala o prof. James Irinside, da Unidade Nacional de Vigilância da Doença de Creutzfeldt-Jakob, em Edimburgo (Escócia).
"É totalmente possível que haja uma nova epidemia, porque os casos que temos visto até agora poderão ser só os de pessoas especialmente susceptíveis à doença ou com períodos de incubação mais curtos", acrescenta.
A última pessoa analisada não morreu devido à infecção, mas a um problema arterial ocorrido cinco anos depois de ter recebido a transfusão de sangue.
A doença de Creutzfeldt-Jakob só foi detectada na autópsia - é, aliás, a única forma de confirmar o diagnóstico desta patologia - , quando os médicos legistas encontraram rastos do prião no baço e num nódulo linfático, mas não no cérebro. "Embora não tivesse sintomas, o paciente podia ter sido um foco de infecção", comenta o especialista na revista.
Esta idosa é o segundo caso de um paciente que contraiu a doença durante uma transfusão. Face a esta forma de transmissão, Londres proibiu há alguns meses as doações de sangue de habitantes que possam ter estado em contacto com a doença.
A variante humana da BSEA encefalopatia espongiforme bovina (BSE), conhecida como doença das vacas loucas, é uma encefalopatia espongiforme transmissível que afecta o gado bovino. O primeiro caso foi registado no Reino Unido em 1986. As doenças da classe encefalopatia espongiforme transmissível podem afectar não só os bovinos, mas também os ovinos (é o caso da "scrapie"), veados e visons.
Já a doença de Creutzfeldt-Jakob, uma doença rara de tipo neurodegenerativo, é também um tipo de encefalopatia espongiforme, característica pela degeneração esponjosa do cérebro. Há diferentes formas da doença de Creutzfeldt-Jakob e até há pouco tempo eram conhecidas apenas três variantes (esporádica, familiar e iatrogénica), mas com a eclosão da BSE começou a suspeitar-se que o consumo de carne de animais infectados levaria ao desenvolvimento de uma nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob. A transmissão da doença deve-se ao prião, uma proteína defeituosa que contagia as proteínas humanas (ver caixa).
Ao contrário dos casos comuns de Creutzfeldt-Jakob esporádica, esta variante pode afectar pacientes jovens. Os sintomas da nova variante de Creutzfeldt-Jakob são essencialmente psiquiátricos no início da doença, sendo a depressão ou a esquizofrenia são as patologias mais comuns. Esses sintomas podem ser acompanhados, por sintomas sensoriais muito dolorosos. Antes da morte os problemas neurológicos avolumam-se, afectando o movimento e a fala.