Livro lança suspeitas de "doping" sobre Lance Armstrong
O lançamento e a impressão desta obra estão debaixo de grande secretismo, por questões de segurança, segundo o “Sunday Times”, jornal onde trabalha um dos autores, David Walsh, galardoado por três vezes no "British Press Awards“ como melhor jornalista desportivo. Walsh investigou na Europa e nos EUA a carreira de Armstrong em parceira com o francês Pierre Ballester, ex-repórter do “L’Équipe”, jornal pelo qual cobriu dez edições do Tour, e colaborador no livro de Willy Voet (“Massacre a la Chaine; Breaking the Chain”; ver bibliografia), antigo massagista da Festina que em 1998 foi detido na fronteira franco-belga, na posse de dopantes, desencadeando o maior escândalo de dopagem na história do ciclismo.
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O lançamento e a impressão desta obra estão debaixo de grande secretismo, por questões de segurança, segundo o “Sunday Times”, jornal onde trabalha um dos autores, David Walsh, galardoado por três vezes no "British Press Awards“ como melhor jornalista desportivo. Walsh investigou na Europa e nos EUA a carreira de Armstrong em parceira com o francês Pierre Ballester, ex-repórter do “L’Équipe”, jornal pelo qual cobriu dez edições do Tour, e colaborador no livro de Willy Voet (“Massacre a la Chaine; Breaking the Chain”; ver bibliografia), antigo massagista da Festina que em 1998 foi detido na fronteira franco-belga, na posse de dopantes, desencadeando o maior escândalo de dopagem na história do ciclismo.
O “L’Express” publicou excertos do livro particularmente nocivos para a imagem de Armstrong. O mais grave baseia-se no testemunho de Emma O’Reilly, massagista do ciclista entre 1998 e 2000, que conta, entre outros episódios, como era incumbida de transportar embalagens de medicamentos e substâncias, de esconder seringas usadas pelo norte-americano e até de disfarçar com maquilhagem, antes de um controlo “antidoping”, marcas que injecções de dopantes deixavam num antebraço de Armstrong (segundo Voet, vitaminas e produtos permitidos são administrados na parte inferior do braço, enquanto o antebraço é usado para injecções profundas de eritropoietina –EPO – e hormona de crescimento – hGH).
A massagista irlandesa assistiu à discussão na equipa US Postal sobre a forma como iriam justificar a presença de corticosteróides num controlo antidopagem realizado ao norte-americano no Tour de 1999 – optou-se por uma prescrição médica manipulada para tratar uma lesão fictícia, que a União Ciclista Internacional aceitou sem objecções – e lembra-se ainda da resposta de Armstrong quando lhe perguntou certa vez como iria recuperar de uma taxa de glóbulos vermelhos muito baixa: "Como os todos os outros fazem", respondeu o ciclista, indiciando que a solução seria consumir EPO.
O’Reilly, que no livro denota ainda parte da grande admiração que tinha pela personalidade ganhadora de Armstrong, confirma os encontros entre o actual pentacampeão do Tour e Michele Ferrari, médico italiano que enfrenta um julgamento em que é acusado de ter incentivado a vários ciclistas o consumo de EPO, substâncias causadoras da morte prematura de muitos profissionais. “Eu tenho um problema com esse tipo e com os médicos da sua espécie. A minha carreira foi encurtada, vi um colega morrer, vi ciclistas limpos serem destruídos e obrigados a renunciar às suas carreiras. Não gosto no que se tornou o nosso desporto”, disse há três anos o norte-americano Greg LeMond a Armstrong, numa discussão por telefone em que o líder da equipa da US Postal ameaçou denegrir a imagem campeão do Tour em 1986, 1989 e 1990 – LeMond criticara Ferrari em declarações a uma reportagem de Walsh.
Para além do “doping”, o livro vasculha a forma como Armstrong se tornou um campeão nos EUA, antes de enfrentar um cancro nos testículos (os médicos deram-lhe apenas 40 por cento de hipótese de sobrevivência) e encetar uma recuperação lendária que o levou às cinco vitórias consecutivas no Tour. Num dos episódios abordados, o neozelandês Stephen Stewart conta que Lance e a sua equipa daquela altura, a Motorola, lhe propuseram pagar 50 mil dólares para que não lhes tentasse impedir uma série de vitórias, que valiam um milhão de dólares – Stewart não atrapalhou e recebeu o valor acordado.
Antes mesmo de excertos do livro terem sido publicados no “L’Express”, os advogados de Armstrong em Londres ameaçaram com retaliações na justiça, dias depois de o ciclista ter criticado severamente o grande repórter inglês numa entrevista ao jornal alemão “De Telegraaf”: “Walsh é o pior jornalista que conheci. Há jornalistas apostados em mentir, ameaçar pessoas e roubar de modo a me apanharem. Tudo isto por uma história sensacionalista. Ética, normas, valores, objectividade – não têm qualquer interesse para pessoas como Walsh”.
Ontem, depois de as agências terem amplificado o impacto do livro, os representantes legais do ciclista em Inglaterra emitiram um comunicado indicando que o seu cliente “reagiu com muita preocupação e desalento às falsas alegações” e que “deu instruções aos seus advogados para imediatamente instituir procedimentos legais: no Supremo Tribunal de Londres contra o ‘Sunday Times’ e David Walsh por injúrias e danos substanciais; em Paris, contra David Walsh, Pierre Ballester, a editora de ‘L.A. Confidential’ e a editora do ‘L’Éxpress’”.