Porto 2001 tenciona demolir balneários do Largo do Viriato
A anunciada demolição dos balneários do Largo do Viriato, em Miragaia, no Porto, foi recebida com inquietação. Os utentes temiam ficar sem sítio para tomar banho e a presidente da Junta de Freguesia frisava "jamais" permitir que o equipamento viesse abaixo sem antes haver uma alternativa. Afinal, a Sociedade Porto 2001 só vai demolir o actual balneário quando um novo, a construir no largo, estiver pronto.
Todos os dias de manhã, com excepção do domingo, Rui Duarte Silva sai da sua pequena casa aparentemente sem estar vestido como mandam as regras. Traz um pijama e um robe a cobrir-lhe o corpo, calça uns chinelos e carrega um saco com tolha, champô e sabonete. Atravessa a rua e entra no balneário do Largo do Viriato, ao cimo da Rua da Restauração. Rui Duarte está vestido a preceito, porque vai cuidar da sua higiene íntima. Há cerca de 20 anos que é assim, porque "não é por uma pessoa ser pobre que tem de ser porca". Este homem vive, com a mulher e com o filho, numa ilha localizada mesmo no Largo do Viriato. A sua habitação, que até já foi vendida à Câmara do Porto em Abril do ano passado, "é uma tristeza". No interior, só se pode circular de lado. As necessidades são "feitas para um buraco". Toda a família usa o balneário público. São 60 escudos por chuveiro. Se não levassem toalha, teriam de pagar mais 140 escudos. Quando Rui Silva ouviu dizer que o balneário era para demolir, ficou apreensivo. "Eles não podem fazer isso, a câmara só pode acabar com isto quando já não houver ilhas", disse com firmeza ao PÚBLICO.Lurdes Ferreira, que trabalha naquele balneário há quase 20 anos, também estava preocupada: "Não sei muito bem o que vai acontecer, ouvi dizer que vão deitar isto abaixo". E procurava uma explicação: "Há uns anos até faziam fila aqui, agora vem muito menos gente".Apesar de, actualmente, aquele equipamento ser menos requisitado do que noutros tempos - "afinal, saiu muita gente desta zona" -, ainda proporciona cerca de seis mil banhos por ano. De segunda a sábado, há homens, mulheres e crianças que lá vão assegurar a sua higiene. Uns porque não têm casa de banho, outros porque estão com obras em casa e os familiares moram longe. A dona Lurdes conhece muitos deles, sabe de que dores sofrem, quanto tempo demoram "lá dentro" e quantos banhos costumam tomar por semana. O dia de maior movimento é o sábado, "quando as pessoas não têm de passar o tempo todo a trabalhar". Poucos são aqueles que, como Rui Silva, lá vão todos os dias. O balneário do Viriato, que até já tem uma das alas desactivada, serve também gente "apertada". Ainda no sábado passado entrou um homem de fato e gravata pela porta dentro. "Desculpe! Desculpe! Preciso de ir à casa de banho", atirou, já a correr para a zona dos banhos. "Não é por aí", advertiu Lurdes Ferreira, indicando-lhe o sanitário. E riu. Todos riram, naquele local onde ainda há pessoas a parar para conversar um pouco. A Junta de Freguesia de Miragaia mora à frente do balneário. "Soube de uma forma lateral que a 2001 pretende requalificar esta área e que, nesse âmbito, quer demolir o balneário; porém, devo dizer que nós não fomos ouvidos nem somos parceiros nesta tomada de decisão", referiu a presidente da junta, Ana Pereira. "Estas pessoas já são penalizadas por terem de utilizar os balneários, não vou permitir que percam este equipamento", frisou. Para Ana Pereira, "a solução seria construir uma alternativa a esta e intervir ali só quando houvesse essa alternativa". "Até proponho que, na ala que está desactivada, passasse a funcionar uma lavandaria mecânica", declarou, acrescentando que "a câmara está a negociar a delegação de competências às juntas de freguesia nesta área" e que, se ficar com a responsabilidade do balneário, este vai passar a ter esse serviço, de lavagem de roupa. O arquitecto Camilo Cortesão, a quem a Sociedade Porto 2001 entregou o projecto de requalificação desta zona, prevê, de facto, a demolição daquele equipamento, "até para dar mais visibilidade àquela grande árvore que lá está, um jacarandá". Contudo, a ideia é construir um outro, "mais baixo, talvez com um café e com uma esplanada", revelou ao PÚBLICO. De acordo com um porta-voz da Porto 2001, "a construção está prevista num sítio um bocadinho diferente do actual". O novo balneário nascerá no próprio Largo do Viriato, mas uns metros para nascente. Só quando a obra estiver pronta, o velho edifício amarelo desaparece. O esquema para o novo equipamento já foi aprovado. Agora, a 2001 está à espera que a Direcção Municipal do Ambiente lhe forneça o programa do edifício, isto é, as valências que este deve ter. A 2001 ainda não tem datas. Garante, todavia, que "a obra da zona da [Rua da] Restauração não vai atrasar pelo eventual atraso do balneário".