“Bem-vindos ao inferno”: manifestações anti-G20 ferem 111 polícias e dezenas de activistas
Tarde e noite de quinta-feira, na véspera do início da cimeira dos países mais ricos do mundo, marcadas por manifestações pacíficas e confrontos violentos em Hamburgo. “O inferno é o do ultraliberalismo."
Há vários dias concentrados em Hamburgo, os manifestantes que esta sexta-feira querem receber os líderes do G20 envolveram-se em confrontos durante a noite passada e nesta madrugada, causando ferimentos em 111 polícias, segundo um novo balanço da polícia local. Quarenta e quatro manifestantes foram detidos, indicam as autoridades. Aqueles que contestam a reunião dos países mais ricos do mundo quiseram receber assim os seus líderes: “Bem-vindos ao inferno”.
“O inferno é o do ultraliberalismo, mas também o que nós preparamos para o G20”, explicava Andreas Blechschmidt, um dos organizadores da marcha de quinta-feira, ao diário francês Le Figaro. O lema do protesto de quinta-feira ecoa na imprensa internacional, com a Reuters ou a alemã Deutsche Welle a identificarem a frase como tema da grande manifestação de quinta-feira, descrita como “o primeiro grande teste para a polícia” – numa cimeira que é vista também como um grande teste, ou grande lista de desejos, de Angela Merkel, a chanceler alemã anfitriã que almeja fazer da cimeira uma manifestação de multilateralismo. Para já, manifestações só aquelas que envolveram confrontos de activistas com a polícia naquela cidade portuária alemã e disparos de canhões de água e de gás pimenta. A cidade “parecia estar em estado de emergência”, reporta o Figaro.
Os manifestantes anti-capitalismo atiraram garrafas contra o cordão policial. Carros danificados e alguns pequenos fogos pontuaram os protestos em que estariam perto de 13 mil contestatários e perto de mil anarquistas vestidos de negro e envergando máscaras – estes últimos, aludindo ao grupo conhecido como Black Block que na última década e meia tem pontuado os protestos antiglobalização em várias cimeiras do género, insuflaram um cubo de plástico gigante, negro, entre a multidão. A Deutsche Welle relata como os panfletos distribuídos entre os manifestantes pedem que estes “sejam barulhentos, zangados e combativos”, com a polícia ciente de que esta seria a primeira grande reunião dos manifestantes vindos do bloco anarquista.
Ainda assim, na manifestação de quinta-feira e até ao entardecer, quando se intensificaram as tensões, estiveram bebés, idosos, turistas e engravatados. O grupo de encapuzados e figuras de negro que encabeçou a manifestação começou depois a ser contido pela polícia à medida que se queria aproximar do centro e as autoridades anunciarm formalmente o fim da manifestação, dando ordens para que todas as máscaras e lenços fossem removidos dos rostos enquanto circundavam ao aglomerado de civis. Os canhões de água e as latas de gás impediram a manifestação de atingir o centro da cidade, com algumas pessoas a sair do corpo central do protesto por ruas laterais.
Segundo as agências noticiosas, os confrontos começaram a fazer-se notar mais cerca das 20h. Cento e onze polícias ficaram feridos até às 8h desta sexta-feira, informou a Polícia de Hamburgo em comunicado, e três deles tiveram de receber tratamento hospitalar. A Reuters detalha que os pilotos de um helicóptero policial ficaram feridos nos olhos depois de serem atingidos com ponteiros de laser. O El País refere a existência de um ferido grave, um agente de segurança com um ferimento ocular devido ao rebentamento de um petardo. Vinte e nove pessoas estão presas e 15 detidas para averiguações, detalha a norte-americana ABC.
Foi um dos organizadores da marcha de quinta-feira, Andreas Blechschmidt, que confirmou ao El País o número de detidos das manifestações da noite, tendo também mencionado que há “dezenas” de feridos entre os manifestantes e polícia. O Figaro indica que "o jogo do gato e do rato" entre polícias e manifestantes mais insistentes durou noite fora e as imagens dos fotojornalistas ao longo das últimas horas mostram barricadas feitas de mobiliário urbano e focos de fogo com objectos incendiados por activistas com bandeiras e caras tapadas e polícias de choque vigilantes pelas ruas.
A polícia prevê que cerca de 100 mil manifestantes confluam na cidade, dos quais 8000 estão identificados como sendo violentos. Há 20 mil agentes de segurança mobilizados, vindos de toda a Alemanha, na cidade natal de Angela Merkel, que estes dias está esvaziada de muitos dos seus habitantes, refugiados dos condicionalismos de segurança e de circulação no centro com férias fora da região. Toda a zona em torno do centro de convenções de Messehallen está em estado de sítio, com forte presença policial, e o centro da cidade está bordejado de camiões policiais e canhões de água – “transformada numa fortaleza”, descreve Jenny Witt na Deutsche Welle. As lojas foram entaipadas e algumas montras substituídas por cartazes antiglobalização.
Na manhã desta sexta-feira, através do Twitter, a polícia local reiterou o seu pedido de que as ruas sejam mantidas livres, apelando a que as pessoas "não se coloquem em perigo desnecessariamente".
??Von uns ergeht erneut der Hinweis -> Haltet die Straßen frei, ihr sollt euch nicht selbst gefährden, bringt euch nicht unnötig in Gefahr?? https://t.co/38HW1DzzUw
— Polizei Hamburg (@PolizeiHamburg) 7 de julho de 2017
Estão previstas cerca de 30 manifestações contra o G20 e decorrem nos arredores de Hamburgo encontros mobilizados por jovens e activistas que querem debater, numa cimeira alternativa, os problemas do planeta. A cimeira decorre esta sexta-feira e sábado.