A contestada presença de Israel vai marcar a segunda semifinal da Eurovisão

O país que neste momento conduz uma ofensiva militar em Gaza que já fez várias dezenas de milhares de mortos entra esta noite em cena na Eurovisão. Uma presença envolta em muita polémica e protestos.

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A cantora israelita Eden Golan num ensaio da segunda semifinal da 68.ª Eurovisão Leonhard Foeger/REUTERS
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É esta noite que Eden Golan sobe ao palco da 68.ª Eurovisão para cantar Hurricane, representando assim o seu país no festival europeu da canção. Será o 14.º tema a entrar em cena, de um total de 16. Em qualquer outro ano, com qualquer outro concorrente, esta seria uma ocorrência normal. Mas Eden Golan vai cantar por Israel numa cerimónia que tem lugar em Malmö, na Suécia, enquanto em Gaza está em curso, há sete meses, uma ofensiva militar israelita que já fez mais de 30 mil mortos.

A própria canção, cujas entrelinhas contêm, para muitos, referências mais ou menos veladas ao ataque do Hamas de 7 de Outubro que provocou acima de mil mortes no Sul de Israel, é polémica. Uma primeira versão do tema foi recusada pela organização do festival, que se diz apolítico, tendo a letra sido então alterada para eliminar alusões directas ao massacre do Hamas.

No ensaio geral de quarta-feira, aberto ao público, Eden Golan foi apupada enquanto interpretava a sua canção, com pessoas a gritar "libertem a Palestina" e até empunhando bandeiras da Palestina, visíveis em vídeos amadores publicados nas redes sociais.

Tudo isto tem trazido uma atenção diferente à 68.ª edição do Festival Eurovisão da Canção, com inúmeros apelos a boicotes e ao afastamento de Israel da competição, à semelhança do que aconteceu há dois anos com a Rússia. Eden Golan, a quem os serviços secretos israelitas recomendaram que permanecesse no quarto quando não está a cantar, por razões de segurança, é também de ascendência ucraniana e, até à invasão do país pelo exército russo, era uma estrela pop na Rússia, onde cresceu, tendo voltado a Israel há dois anos.

A organização não cedeu aos apelos e há por isso segurança reforçada à volta de tudo o que tenha que ver com o concurso, com vários protestos à volta de Malmö. Um deles conta com a presença da activista climática Greta Thunberg. Mas está também marcada uma manifestação a favor da inclusão de Israel, ao som de canções com que o país concorreu à Eurovisão no passado.

O evento assume-se apolítico, pelo que bandeiras que não sejam as dos países concorrentes ou a do arco-íris LGBTQIA+ estão banidas do recinto – embora tenha havido espectadores que as conseguiram contrabandear. Na primeira semifinal, aquela em que a portuguesa iolanda assegurou o seu apuramento para final, Eric Saade, concorrente sueco à Eurovisão de 2011 e filho de um refugiado palestiniano no Líbano, usou um keffiyeh, símbolo da luta palestiniana na mão enquanto actuava. A União Europeia de Radiodifusão (UER, que organiza o festival, condenou o acto: "Todos os intérpretes são informados das regras do concurso e lamentamos que Eric Saade tenha escolhido comprometer a natureza não-política do evento."

Numa story publicada no Instagram, Saade justificou-se a posteriori: "Isto foi só a minha maneira de mostrar uma parte da minha origem, o que é importante num mundo como este. Esse keffiyeh foi-me dado pelo meu pai quando eu era pequeno, para nunca me esquecer de onde a família vem. Nessa altura, não sabia que um dia a UER lhe chamaria 'um símbolo político'. É como chamar ao 'Cavalo de Dalarna' [ícone sueco] um 'símbolo político'... A meu ver, é só racismo", escreveu. "Só queria ser inclusivo e usar algo que é autêntico para mim – mas a UER parece achar que a minha etnia é controversa. Isso não diz nada de mim, mas diz tudo acerca deles. Vou cingir-me ao slogan deste ano da Eurovisão: Unidos Pela Música! Só posso esperar por algum tipo de mudança no futuro", concluiu.

A segunda semifinal, conduzida por Malin Åkerman e Petra Mede, será transmitida em directo da Malmö Arena na RTP1 a partir das 22h39, com comentários portugueses de Nuno Galopim e José Carlos Malato. Os outros países representados são Malta, Albânia, Grécia, Suíça, Chéquia, Áustria, Dinamarca, Arménia, Letónia, San Marino, Geórgia, Bélgica, Estónia, Noruega e Países Baixos.

Notícia actualizada às 20h01: a cerimónia decorre a partir das 22h39.

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