Aprender a pensar, não (apenas) a executar
As práticas de aprendizagem informal, saídas de campo, visitas guiadas a museus, jardins botânicos devem ser estimuladas porque podem levar a aprendizagens mais intensas e sistemáticas sobre o mundo real.
Durante este período de crise económica, o crescimento deve estar mais dependente de investimentos em melhores práticas pedagógicas, autonomia das escolas e incentivos aos docentes do que em trabalho burocrático.
A experiência que o Jardim Botânico do Museu Nacional de História Natural e da Ciência – Universidade de Lisboa – e o Jardim Botânico da Universidade de Coimbra obtiveram nos últimos três anos com a oferta de oficinas de formação sobre a aplicação do método de aprendizagem activa (IBSE – Inquiry Based Science Education) no ensino da biodiversidade, permitiu o lançamento de um documento estratégico dividido em duas partes: (i) uma mensagem política, dirigida a entidades responsáveis pelo ensino, pais, encarregados de educação e instituições de ensino, com propostas que permitam medir o sucesso educativo; (ii) medidas estratégicas com metas a serem implementadas a médio/longo prazo (vide www.inquirebotany.org/pt).
A mensagem política. Repensar a educação com vista a melhores práticas de ensino.
1. Clarificar o significado de aprendizagem activa. Importa treinar docentes e incentivar a sua formação a título individual e a nível das comunidades escolares, aumentando a reflexão sobre a sua própria aprendizagem e as suas práticas lectivas. A metodologia IBSE estimula os estudantes a desenvolver os seus conhecimentos epistemológicos, competências sociais e, simultaneamente, a compreensão sobre a complexidade da ciência.
2. Estabelecer pontes entre educação formal e informal. Há evidências concretas e comprovadas de que a educação informal, desde que concebida de forma planeada e adequada, oferece excelentes oportunidades de aprendizagem, particularmente por permitir a ligação a conteúdos lectivos dados em sala de aula.
3. Envolver a comunidade e as famílias em todo o processo de aprendizagem. O envolvimento de um público alargado num projecto educativo requer um sistema educativo que privilegie a formação contínua dos professores e a melhoria da relação entre escola e associação de pais, comunidade científica e cultural. E isto implica maior autonomia das escolas.
4. Valorizar o papel dos educadores. Aos monitores, guias ou educadores dos espaços de aprendizagem fora da sala de aula, enquanto “comunicadores de saberes”, deve-lhes ser conferido reconhecimento profissional e de mérito.
As medidas estratégicas - Identificação de objectivos (três) e metas (dez) centrais à reforma educativa.
Objectivo 1: Métodos educacionais
1. “Motivação dos estudantes” como indicador de “melhor sucesso”. As escolas necessitam de trocar experiências de como motivar os estudantes e promover a sua criatividade.
2. Promoção e divulgação do trabalho de investigação individual de cada estudante. O sistema educativo deve ser reorientado de modo a conferir competências aos estudantes no saber colocar questões científicas e a incentivar a comunicação de resultados.
3. Repercussões sociais da educação. As escolas devem ter papel relevante a nível local e regional para estimular a cidadania e o envolvimento da comunidade, envolvendo os estudantes e as suas famílias no processo de aprendizagem e no progresso educativo.
4. Aprendizagem activa. O estímulo de metodologias pedagógicas intelectualmente mais estimulantes e diversificadas pode levar à criação de novas ideias, à melhoria da literacia científica e a hábitos de cidadania activa entre os jovens.
Objectivo 2: Autonomia das escolas
5. Aumento de responsabilidades. As escolas devem estimular os docentes a desenvolver metodologias pedagógicas inovadoras desde que previamente planeadas, justificadas e posteriormente autorizadas.
6. Quebrar de barreiras entre disciplinas. As escolas devem encorajar a troca de conhecimentos e experiências pedagógicas entre docentes e motivar a partilha e interacção de conteúdos científicos.
7. Interacção escola/associação de pais. O planeamento escolar deve ser apresentado no início de cada ano aos pais, promovendo a discussão aberta dos problemas e vantagens das opções tomadas.
Objectivo 3: Aprendizagens diversificadas
8. Estimular uma aprendizagem autónoma. As escolas e os docentes devem estimular a aprendizagem autónoma dos estudantes. Os estudantes devem ser treinados a questionar e a pensar por si.
9. Aprendizagem formal. Ao promover a metodologia IBSE como conceito, os docentes aumentam as competências dos estudantes e envolvem-nos numa actividade investigativa.
10. Aprendizagem informal. As práticas de aprendizagem informal, saídas de campo, visitas guiadas a museus, jardins botânicos devem ser estimuladas porque podem levar a aprendizagens mais intensas e sistemáticas sobre o mundo real.
Estas medidas estratégicas necessitam de ser implementadas a nível regional e nacional. Isto implica a sua discussão ampla entre as instituições de ensino e a vontade política de a incorporar em programas e iniciativas educativas.
Professora universitária