Cartas à directora

Manuela de Azevedo

Nascida em 31 de Agosto de 1911, Manuela de Azevedo, a decana jornalista portuguesa, completa agora 104 anos de idade, e com a publicação de mais um livro de contos de sua autoria, intitulado O Pão que o Diabo Amassou, o qual foi apresentado nesse mesmo dia na Casa da Imprensa.

Hoje, dia 1 de Setembro, para comemorar toda esta vida dedicada às letras, em cujo acervo poderemos encontrar ensaios, poesias, dramaturgias e contos, como o título que agora é dado à estampa, Manuela de Azevedo será condecorada pelo Presidente da República.

Se não devemos prodigalizar-nos em homenagens, esta, todavia, é justa, também por mais este exemplo de longevidade e de continuação de produção, e que nos deve animar no sentido de sermos também cada vez mais activos e interventivos nos diferentes aspectos da sociedade portuguesa.

José P. Costa, Lisboa

Oliver Sacks (1933-2015)

Em 20 de Fevereiro deste ano, uma notícia publicada no PÚBLICO chamou-me deveras a atenção. De tal forma, que resolvi recortar o pedacinho de jornal que lhe dizia respeito: Oliver Sacks, o escritor dos contos clínicos, sofre de cancro terminal. O (também) neurologista e professor anunciava a sua morte num artigo publicado no New York Times no dia anterior intitulado My Own Life (A minha própria vida). Dizia que lhe restavam apenas algumas semanas de vida. Sacks soube poucas semanas antes que tinha metástases no fígado como um desenvolvimento do tumor raro num olho diagnosticado e tratado nove anos antes. Com 81 anos, ainda nadava uma milha por dia! Impressionou-me ter dito que estava entre os 2% de desafortunados a quem aquele cancro dá origem a metástases… Nesse artigo de 19 de Fevereiro (2015), escreveu: “Fui um ser com sentidos, um animal pensante, neste maravilhoso planeta, e isso, em si, foi um enorme privilégio e uma aventura (…), espero que o tempo que me resta me permita aprofundar as minhas amizades, despedir-me daqueles que amo, escrever mais, viajar, se tiver forças para isso, alcançar novos níveis de conhecimento e compreensão”.

Os médicos davam-lhe algumas semanas, que se transformaram em seis meses. Morreu no passado domingo, 30 de Agosto.

Uma inspiração para todos nós. Ainda mais que todos os seus projectos eram motivados pelo amor que tinha aos seus doentes. Penso igualmente no jovem professor americano David Menasche que resistiu ao cancro por mais sete anos que o tempo que lhe foi dado pelos médicos e que relata a sua viagem – de uma ponta à outra dos EUA, quase cego e paralisado de um braço, para se encontrar com os seus ex-alunos, a sua maior paixão – em A Lista de Prioridades, da editora Nascente. Um livro fabuloso.

Voltando ao célebre neurologista… aguardo a publicação em Portugal (assim o espero) do seu último livro, uma autobiografia intitulada On the Move (“em movimento”, “em mudança”).

Menasche morreu aos 41. Sacks aos 82. Coincidentemente, David tinha metade da idade do neurologista. Mas ambos viveram digna e corajosamente com o cancro até ao último suspiro. Não ficaram em casa, não obstante a doença. Quiseram continuar a ser úteis aos outros, vivendo a paixão das suas vidas até à última gota!

Céu Mota, Santa Maria da Feira

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