Steve Ballmer, o gestor que nunca saiu da sombra de Bill Gates

Nos últimos 13 anos, a Microsoft lançou vários produtos de sucesso, mas deixou escapar tendências importantes do mercado.

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Ballmer abandonará a Microsoft quando for encontrado um sucessor Lucas Jackson/Reuters

“Este facto pode ter escapado às pessoas, mas eu comecei um novo emprego há três anos e meio”, disse Ballmer numa entrevista no ano passado à revista americana Business Week, feita numa sala privada de um restaurante onde o executivo costuma ter reuniões. Ballmer manteve exactamente o mesmo cargo que assumira em 2000, mas Gates abandonara em 2008 as actividades quotidianas da empresa, dando ao funcionário número 30 da Microsoft muito mais margem de manobra.

Ainda assim, a sombra do fundador não se dissipou. “O facto é que o tipo novo nunca vai ser exactamente como o fundador visionário, por mais que se esforce”, disse a dada altura ao repórter da Business Week. “Não vou fingir que sou um visionário”.

Ballmer conheceu Gates na Universidade de Harvard, onde tirou um curso de matemática aplicada e economia. É conhecido pela inteligência (teve 100% no teste de matemática para admissão à universidade) e pela impulsividade e agressividade (abundam na Internet vídeos e paródias de Ballmer com a camisa suada, aos saltos e aos urros em eventos da Microsoft). Esteve pelo menos uma vez em Portugal, para um memorando entre a Microsoft e o Governo, em cuja sessão desfiou elogios ao Plano Tecnológico de José Sócrates.

Na sexta-feira, Ballmer anunciou que abandonará a Microsoft nos próximos 12 meses, período que será usado para encontrar um sucessor. Argumentou que chegaria à idade da reforma a meio da visão estratégica que tem para a Microsoft. Os mais de 13 anos como presidente executivo são uma história de sucessos e falhanços.

Contra o Google e a Apple
O Windows XP, lançado em 2001 já com Ballmer como CEO, foi um dos mais bem-sucedidos sistemas operativos da empresa. No mesmo ano, foi lançada a consola Xbox, que se tornou uma divisão de negócio rentável num sector dominado pelas veteranas Sony e Nintendo.

As versões do Windows que se seguiram ao XP não conseguiram o mesmo sucesso. O Vista, que começou a ser comercializado em 2007, foi um fracasso, em parte por exigir especificações técnicas elevadas, o que era incompatível com o fenómeno que então se verificava de popularidade dos netbooks, os pequenos portáteis, baratos e com capacidade técnica limitada.

Com o Windows 7, lançado menos de três anos depois para corrigir o passo em falso que fora o Vista, a Microsoft limpou a face. O sistema operativo foi bem recebido pela crítica na imprensa especializada e teve um bom desempenho de vendas.

Noutras áreas, porém, a Microsoft não conseguiu fincar pé. Em 2006, apresentou o leitor de música Zune, em resposta ao iPod, da Apple. Os aparelhos nunca conseguiram uma quota de mercado significativa e deixaram de ser fabricados em 2011.

Nos serviços na Internet, nunca conseguiu aproximar-se do Google. Em 2008, Ballmer disse que a Microsoft era um David a lutar contra um Golias – foi o ano em que tentou uma oferta pública de aquisição hostil ao Yahoo, que acabou por não se concretizar.

O motor de busca da Microsoft, o Bing (que tem uma parceria com o Facebook), tem apenas uma fatia de 5,8% das pesquisas feitas em computadores em todo o mundo, de acordo com dados da analista Marketshare. Nas plataformas móveis, ainda menos: 3,3%. Em qualquer dos casos, o Google tem mais de 80%.

O mundo a mudar
Em 2007, a Apple lançou o iPhone. Mais do que ter inventado o smartphone moderno, o paradigma da computação pessoal começou então a mudar, com o conceito do ecrã táctil a estender-se aos tablets, uma evolução que acabou a minar o mercado dos PC, onde a Microsoft está alicerçada (muito antes do iPad, entre 2000 e 2002, Bill Gates até mostrou apresentou publicamente vários tablets, alguns dos quais chegaram ao mercado, mas a empresa não os conseguiu tornar um produto de sucesso).

Naquela altura, Ballmer não ficou impressionado com o iPhone e tornou-se famosa uma frase de uma entrevista, em que foi questionado sobre o produto recém-apresentado: “É o telefone mais caro do mundo e não é apelativo para clientes empresariais porque não tem um teclado, o que faz com que não seja uma boa máquina para email.”

A resposta da Microsoft à mudança começada pelo iPhone não foi rápida e chegou numa altura em que o sistema Android, desenvolvido pelo Google, e o iOS, da Apple, já eram bem conhecidos dos consumidores e dos programadores de aplicações. Em Outubro de 2010, a Microsoft apresentou o sistema operativo Windows Phone, para telemóveis com ecrã sensível ao toque. De acordo com dados da IDC, a quota de mercado do Windows Phone era no segundo trimestre de 3,7%.

Já no ano passado, a Microsoft lançou o Windows 8, para computadores e tablets. Embora a empresa sublinhe que as vendas estão em linha com as do anterior sistema, as queixas dos utilizadores levaram a que a Microsoft tivesse de redesenhar algumas funcionalidades. Ballmer chamou ao Windows 8 o momento em que ia “apostar” a própria empresa. E a aposta está longe de ser ganha.

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