Quatro anos depois do horror, jovens noruegueses partem à reconquista de Utoya

Campo de verão da juventude trabalhista realiza-se este fim-de-semana na ilha onde Breivik matou 69 pessoas em 2011.

Os jovens trabalhistas já começaram a chgar à ilha de Utoya
Fotogaleria
Os jovens trabalhistas já começaram a chgar à ilha de Utoya Vegard Wivestad Grott/Reuters
Ole Martin Juul Slyngstadli,de 22 anos
Fotogaleria
Ole Martin Juul Slyngstadli,de 22 anos ODD ANDERSEN/AFP

Na véspera do primeiro campo de Verão da Juventude Trabalhista (AUF) a realizar-se na ilha de Utoya depois do dia 22 de Julho de 2011, Ole Martin Juul Slyngstadli, de 22 anos, diz não ter medo nem hesitações por regressar ao local onde o extremista de direita matou 69 pessoas.

“Tenho um bom feeling e não tenho qualquer problema em ir para lá”, diz Ole, um jovem enérgico e empenhado. “Para mim é importantes reconquistar a ilha”, diz à AFP.

Para muitos, Utoya continua associada a recordações dolorosas. Alguns consideram prematuro, ou mesmo indecente, organizar um novo campo de Verão para o qual são esperados hoje cerca de mil militantes que ficarão na ilha até domingo.

Foi nesta ilhota situada no meio de um lago que Anders Behring Breivik abriu fogo sobre os cerca de 600 participantes aterrorizados do tradicional encontro estival da AUF.

O ataque, que durou mais de uma hora, tinha como objectivo, disse depois Breivik, matar o viveiro do Partido Trabalhista, força historicamente dominante do país escandinavo e responsável, segundo o assassino, pelo inaceitável multiculturalismo que se instalou no país.

Antes de chegar a Utoya, Breivik matou outras oito pessoas, fazendo explodir uma bomba perto da sede do Governo em Oslo, a cerca de 40 quilómetros da ilhota.

“O ataque deixou marcas profundas. Tu sabes que alguém te tentou matar pelo único motivo de teres fé numa sociedade multicultural, de tu acreditares numa determinada política”, diz Ole Martin Juul Slyngstadli. “Antes, eu era politicamente muito empenhado, mas agora a minha chama arde um pouco mais e estou ainda mais envolvido politicamente.”

Esquecer Breivik

Membro do conselho municipal de Stavanger, o estudante de Direito já está atarefado a preparar as eleições locais de Setembro. Também faz parte de um grupo de centenas de voluntários que ajudou a reabilitar Utoya, onde já foi várias vezes depois do massacre.

“Claro que há muitas emoções ligadas a este local, mas concentro-me nas emoções positivas.” A 22 de Julho de 2011, salvou a vida de Ina Libak, que foi ferida com três balas. Levou-a ao colo para a esconder entre os arbustos e depois, com a ajuda de outros, conseguiu travar as suas perdas de sangue.

“Nunca vi ninguém correr assim tão depressa e com tanta força”, testemunhará mais tarde Ina Libak, a propósito do seu bom samaritano.

Ele lembra-se do cheiro acre da pólvora, do assassino a passar apenas a alguns metros do seu esconderijo sem os ver, do telefonema que fez aos seus pais. “Aconteça o que acontecer, eu amo-vos”, disse-lhes Ole Martin.

Ina e Ole foram por fim evacuados da ilha por barco, ela gravemente ferida, os dois em estado de choque, mas os dois com vida. Por entre as dezenas de corpos sem vida deixados para trás em Utoya, estavam dois amigos com quem Ole partilhava uma tenda.

De Anders Breivik, que cumpre uma pena de prisão de 21 anos susceptível de ser prolongada, se ficar provado que ele continua a ser uma ameaça para a sociedade, Ole Martin Juul Slyngstadli pouco fala.

“Porque é que eu haveria de me preocupar?”, pergunta o jovem. “Percebo que algumas pessoas ainda sintam raiva e ódio, mas eu tenho melhores coisas em que pensar.”

Tal como Ole, a Noruega tenta ainda, passados estes quatro anos, um delicado exercício de fazer mergulhar Breivik no esquecimento, ao mesmo tempo que homenageia aqueles que morreram naquele dia de Julho.

Para muitos, o truque é nem sequer pronunciar o nome do assassino e ter como satisfação o facto de que o seu objectivo falhou. Em vez de erradicarem a futura geração de dirigentes trabalhistas, os actos bárbaros de Breivik fizeram com que o número de militantes da AUF amentasse quase 50% depois do massacre de Utoya. 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários