Palestinianos ao rubro com vitória no concurso Arab Idol

“Mohammed Assaf não libertou a Palestina”, escreveu um palestiniano no Twitter. “Mas trouxe alegria a pessoas que não sorriram durante os últimos 66 anos de ocupação”.

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A festa nas ruas da Cidade de Gaza Mahmud Hams/AFP

Com um hino palestiniano chamado “Ergue o teu kaffieyh”, o tradicional lenço que é também um símbolo nacional, Mohammed Assaf foi declarado o vencedor do Arab Idol no sábado à noite em Beirute, onde é gravado o programa, derrotando um egípcio, Ahmed Jamal, e uma síria, Farah Youssef. 

Assim que o resultado foi conhecido milhares de palestinianos que seguiam o programa em directo celebraram nas ruas de várias cidades

“Uma revolução não é só feita por quem leva a espingarda, é o pincel do artista, o bisturi do cirurgião, o machado do agricultor”, disse Assaf depois de ter sido declarado vencedor. “Todos lutam pela sua causa da maneira que acham melhor. Hoje represento a Palestina e hoje estou a lutar por uma causa através da minha arte e da mensagem que estou a mandar.” 

“As pessoas pensam que a Palestina é só rockets e bombas e pedras. Agora todos vão conhecer algo sobre nós de um modo diferente”, disse Mohammed Omar, 50 anos, na rua a celebrar. 

“Assaf é uma pequena palavra mas tem muito significado para nós como palestinianos”, disse Walid Kharoufeh, 21 anos, de Ramallah, ao Guardian. “Isto mostra ao mundo que, apesar da ocupação e da violência e das lágrimas, temos um novo símbolo de paz e que a música é um modo de mostrar ao mundo que somos fortes.” 

“Mohammed Assaf não libertou a Palestina”, escreveu um palestiniano no Twitter, citado pela BBC. “Mas trouxe alegria a pessoas que não sorriram durante os últimos 66 anos de ocupação”. 

Nascido na Líbia de pais palestinianos e a viver no campo de refugiados de Khan Younis, no Sul da Faixa de Gaza, desde os quatro anos, estar em Beirute a vencer um concurso de talento de cantores é extraordinário para Mohammed Assaf. Ele tinha começado a cantar em festas e casamentos, mas na Faixa de Gaza não havia grande hipótese de ter orientação profissional (nem estúdios de gravação). E no território dominado pelo Hamas, a actividade não é propriamente encorajada. 

Aliás, o Hamas começou por criticar a participação de Assaf no concurso, mas perante o entusiasmo popular, optou por declarar que o jovem é um embaixador cultural. No início, Assaf conta que teve muito trabalho a convencer as autoridades da Faixa de Gaza a deixarem-no sair, teve de dar dinheiro a guardas egípcios para o deixarem passar, e quando finalmente chegou ao Líbano, estava atrasado e os promotores do concurso não o iam deixar concorrer. Um outro palestiniano cedeu-lhe o seu lugar depois de o ouvir cantar ali no meio dos concorrentes, achando que Assaf tinha mais hipóteses de vencer. 

Não se sabe o que fará agora Assaf, a primeira superestrela de Gaza. Será que vai regressar ao território, e que o Hamas o vai deixar dar concertos? Será que Israel lhe vai dar autorização para viajar até à Cisjordânia para concertos no outro território palestiniano? 

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