Franceses dizem que Frente Nacional é “um perigo para a democracia”
A imagem da Frente Nacional está em processo de degradação, embora o eleitorado francês se identifique com as suas ideias. Socialistas são cada vez mais de direita.
Marine Le Pen não gosta, mas a maioria dos franceses (78%) classifica a FN como um partido de “extrema-direita”. Em pleno processo de limpeza da imagem, a direcção da FN tem insistido junto dos media franceses para que não qualifiquem o partido com este rótulo e até já houve processos judiciais contra alguns jornalistas.
Entre os mil inquiridos pelo estudo da Ipsos, em parceira com a Fundação Jean Jaurés e com a universidade Sciences Po, há também quem considere a FN “xenófoba” (61%) – um número coincidente (60%) com os que julgam o partido como “um perigo para a democracia” e que traduz uma subida de nove pontos percentuais desde o último ano.
A FN tem sido o partido mais bem-sucedido nos últimos actos eleitorais, com vitórias nas municipais – conquistou 12 câmaras – e nas europeias – onde elegeu 23 eurodeputados –, tendo apenas sido travada nas departamentais de Março pela UMP (centro-direita). Mas a grande meta são as presidenciais de 2017, para as quais as sondagens atribuem a Marine Le Pen um lugar na segunda volta e, potencialmente, uma vitória final. No entanto, 69% dos inquiridos por esta sondagem entendem que o partido não é “capaz de governar o país”. A sondagem anual “Fracturas francesas” foi realizada ainda antes da suspensão do fundador do partido, Jean-Marie Le Pen, na sequência das declarações que nem mesmo direcção da FN deixou de considerar extremistas.
Mas se a popularidade do partido está em queda, os valores defendidos pela FN parecem estar a ganhar terreno junto do eleitorado francês. Cerca de dois terços (67%) consideram haver “demasiados estrangeiros em França” e a maioria (54%) entende que a religião muçulmana “não é compatível com os valores da sociedade francesa”.
A defesa do regresso da pena de morte – medida recordada por Marine Le Pen logo após o atentado na redacção do Charlie Hebdo em Janeiro – é partilhada pela maioria (52%) dos inquiridos por este estudo. O apoio à pena capital subiu desde o ano passado, muito à custa de um crescimento dos que a defendem entre eleitorado socialista (crescimento de 15 pontos percentuais).
No mesmo sentido, o estudo revela uma tendência dominante de adopção de valores considerados de direita pelo eleitorado tradicionalmente socialista, tanto a nível económico como cultural. Entre os simpatizantes de esquerda, 78% (subida de 16 pontos) aprovam a ideia de que “é necessário um verdadeiro chefe em França para restabelecer a ordem”. Até a confiança em relação aos bancos (44%) e às grandes empresas (49%) tem subido junto dos socialistas franceses. Estes resultados são vistos como uma aproximação do eleitorado socialista à linha do primeiro-ministro, Manuel Valls, actualmente a figura mais popular do PS.