Vários Escritores organizam alternativa à feira do livro do Porto
"Acorda Porto" pretende chamar a atenção para a falta que a feira faz. Autores vão apresentar as suas obras em esplanadas dos Aliados.
A ideia, revelou o escritor Miguel Miranda à agência Lusa, é realizar nos dias 22 e 29 de junho, em algumas esplanadas da Praça da Liberdade, no Porto, uma série de apresentações denominadas “um livro em cinco minutos”, o tempo que um escritor terá para falar sobre uma obra sua.
À incitativa já aderiram Luís Miguel Rocha, Valter Hugo Mãe, Manuel Jorge Marmelo, Ana Luísa Amaral, Álvaro Magalhães, Afonso Cruz, Inês Botelho, Patrícia Reis e o próprio Miguel Miranda, que afirma que a “lista ainda não está fechada”. Segundo explicou ainda, a ideia é que nos dois dias “não haja mais do que 10 ou 12 apresentações”, após as quais será possível adquirir os livros e falar com os autores.
Para além destes encontros, que pretendem devolver “um direito que a cidade tem, os escritores têm e os leitores têm”, Miguel Miranda revelou que decorrerá ainda uma acção de protesto contra a não realização de uma feiro do livro no Porto, a que já aderiram escritores que não estarão presentes, como Lídia Jorge e Rentes de Carvalho. “Com cordas - daí o ‘acorda Porto’ - iremos amarrar textos dos vários escritores nas árvores da lamentação, em protesto pela não realização de uma feira do livro que acreditamos que deve ser perpetuada”, afirmou Miguel Miranda.
Os escritores unidos neste movimento espontâneo “não pretendem encontrar culpados, mas consideram que há responsáveis, com responsabilidades várias, a Câmara do Porto e a APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros,) por não haver este ano feira do livro no Porto”, afirmou Miguel Miranda. “Nós não estamos de lado nenhum, não procuramos culpados, o que sabemos é que há inocentes: os escritores e os leitores”, acrescentou.
O primeiro escritor a avançar com uma acção alternativa à feira do livro foi José Luís Peixoto, que decidiu marcar para esta quarta-feira um encontro com os seus leitores, no espaço dos Maus Hábitos, a que acorreram algumas dezenas de pessoas. Perante a plateia cheia, o autor mostrou-se satisfeito, lembrando que tem “muito hábito vir ao Porto e encontrar-se com os leitores” dos seus livros.
“Neste caso este encontro caiu também, de certa forma nesta ausência enorme que se faz sentir na cidade e na região que é a feira do livro do Porto, mas no momento em que fiz este encontro não pensei que ele viesse assumir assim proporções de protesto tão evidentes. Pareceu-me que era do domínio do óbvio para uma pessoa como eu que acredita nos livros e na leitura”, afirmou José Luis Peixoto à agência Lusa.
O escritor desejou que “este seja um ano de excepção e que no próximo volte a existir feira do livro, com quem quer que seja que tenha de assumir isso”. O que o levou a assumir esta atitude individual foi “o não ficar à espera”, por achar que no momento que Portugal está a atravessar é importante ter estas atitudes, afirmou. “Às vezes uma pessoa pode fazer a diferença. É claro que mudar o mundo é trabalho de muita gente, mas mudar o nosso mundo é possível”, concluiu José Luís Peixoto.