Cameron tenta dividir Labour no primeiro debate com Blair

O chefe dos conservadores britânicos estreou--se com apoio armadilhado ao programa de reforma do ensino do primeiro--ministro. Hague nomeado "ministro sombra" dos Negócios Estrangeiros

O novo líder dos Tories, David Cameron, de 39 anos, acusou ontem o primeiro-ministro britânico, o trabalhista Tony Blair, de se encontrar "atolado no passado", mas também disse que apoiará as suas controversas reformas no campo do ensino, das quais nem todo o Labour gosta."Quero falar do futuro... E você já chegou a ser o futuro", sublinhou Cameron, antigo colaborador dos primeiros-ministros Margaret Thatcher e John Major, agora apostado em tentar chegar dentro de três ou quatro anos ao "número 10" de Downing Street.
O novo chefe dos conservadores aproveitou a sua primeira participação num tempo de perguntas ao Governo, na Câmara dos Comuns, em Westminster, para procurar dividir as fileiras da maioria, dizendo que os Tories ajudarão Blair a concretizar as reformas educacionais.
O primeiro-ministro declarou-se "maravilhado" com o novo clima de consenso, mas discordou do apelo do adversário a que todos os estabelecimentos de ensino possam determinar livremente o valor das propinas, sem terem de atender ao parecer as autoridades das suas regiões.
"Creio que se as escolas forem livres de proceder a uma selecção aos 11 anos de idade será um retrocesso para o país. Portanto, receio que neste grande consenso tenhamos de discordar nesse ponto", disse Tony Blair durante o período de perguntas e respostas.
Alguns deputados trabalhistas têm-se manifestado preocupados com o "livro branco sobre o ensino" anunciado no mês passado e que poderá beneficiar os alunos da classe média, em detrimento dos filhos dos trabalhadores.
Blair declarou partir do princípio de que os Tories apoiarão os seus planos de dar mais independência às escolas, e Cameron tranquilizou-o: "Claro que sim. Com o nosso apoio sabe que não há o perigo de perder essas reformas educacionais num voto parlamentar".
O novo líder tory, que estava sentado junto de David Davis, o candidato por ele derrotado esta semana, também desafiou Blair quanto a assuntos de mudança de clima, perguntando-lhe se apoia objectivos para reduzir as emissões de carbono. Posteriormente, anunciou a criação de um grupo de justiça social que se encarregue da "sociedade destroçada" do Reino Unido. Para o coordenar, indigitou o antigo dirigente conservador Iain Duncan Smith.

Davis será "ministro sombra do Interior"
Cameron, a nova estrela da política britânica, encontra-se agora no processo de completar a sua equipa. Reconduziu Davis como ministro do Interior no gabinete sombra e nomeou para os Negócios Estrangeiros o antigo líder dos conservadores William Hague. Nas Finanças manteve George Osborne, de 34 anos, e na presidência do partido Francis Maude.
Desde que a "dama de ferro" Thatcher se retirou em 1990, os Tories foram dirigidos por Major, Hague, Smith e Howard, mas nenhum deles foi capaz de travar a ascensão do New Labour, de Tony Blair, que alargou a base eleitoral dos trabalhistas à classe média, adoptando políticas mais à direita do que era habitual no seu partido.

Descendente da Casa RealAgora, numa altura em que o ministro das Finanças, Gordon Brown, se prepara para num dos próximos anos assumir a liderança do New Labour, Cameron parece à procura de temas, para lhe retirar o eleitorado de centro, como as drogas, o desmoronamento da vida familiar, o crime e a escassez de espaços públicos.
Para já, à frente da bancada parlamentar Cameron colocou Patrick McLoughlin, de 48 anos. Nos próximos dias, deverá continuar com as nomeações, de modo a preparar as eleições gerais nas quais os trabalhistas já não deverão ser conduzidos por Blair por Brown.
David Cameron é vagamente aparentado com a rainha Isabel II já que descende de Elizabeth FitzClarence, "filha ilegítima" de Guilherme IV, que reinou de 1830 a 1837. A mulher de Cameron, Samantha, que se encontra grávida, descende de Nell Gwyn, amante de Carlos II, marido da princesa portuguesa Catarina de Bragança.
Alguns jornais britânicos têm vindo a apresentar o novo chefe da leal oposição como um parente distante da Casa Real.

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