Brown defende Labour como o partido de uma sociedade justa

Primeiro-ministro britânico aproveitou conferência do partido para anunciar novas medidas e
um plano para a crise financeira

a O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, passou ontem a prova do discurso do tudo ou nada - o discurso seria sempre o discurso do salvar-se até à próxima prova, sendo a próxima a eleição intercalar de Glenrothes, em Novembro. O líder dos trabalhistas reconheceu a situação difícil que a Grã-Bretanha atravessa, admitiu erros. Anunciou medidas, evocou a sua história pessoal. Pode não ter tido um público exultante durante quase uma hora, mas cumpriu. O diário The Times dizia que Brown conseguiu provavelmente fazer o seu melhor discurso de sempre.Mencionando o seu próprio estilo, disse: "Não vou ser alguém que não sou. Dizem que eu sou sério - há muitas razões para ser sério." Antes, num toque-surpresa, a mulher de Brown, Sarah, subiu ao palco da conferência trabalhista, em Manchester, para o apresentar.
Numa farpa aos seus críticos dentro do partido (alguns deputados do Labour quiseram que na conferência houvesse um debate, e um desafio, à liderança de Brown), o primeiro-
-ministro disse que o que interessava era o interesse do país - e não o do partido.
Brown anunciou várias medidas concretas, na área da educação, saúde e segurança social, sobretudo. Anunciou check-ups de saúde gratuitos para todos aqueles com mais de 40 anos, mais ajuda para pessoas que cuidam de familiares doentes ou idosos e também mais um milhão de libras para infantários para crianças com menos de dois anos, para além de medidas para apressar tratamentos de cancro.
E apresentou o Labour como a melhor solução para tempos difíceis. "Os conservadores não fizeram nada para ajudar a pagar as contas na última crise económica", acusou o primeiro-ministro. Com a actual crise, "é preciso, mais do que em 1997, um governo trabalhista", disse. E, directamente para o líder dos tories, David Cameron: "Não é altura para um novato."
Brown admitiu erros, como no caso do imposto dos dez por cento, que em alguns casos penalizava pessoas com rendimentos mais baixos, dizendo que o que o "magoou" mais foi "de repente as pessoas sentirem" que ele "não estava do lado das pessoas com rendimentos modestos e baixos - porque do lado das famílias que trabalham duro seria o único sítio" onde quereria estar. "E de agora em diante, é o único sítio onde vou estar", disse.
"Nós seremos um porto seguro para as pessoas" no meio da turbulência, afirmou Brown. "Estamos do lado das pessoas com rendimentos modestos e médios", garantiu.
Quanto à crise financeira, Brown apresentou um plano a discutir com responsáveis da área financeira assente na transparência, responsabilização, integridade e supervisão global. "Londres manter-se-á como centro financeiro do mundo."
O primeiro-ministro fez ainda algo raro: evocou a sua história pessoal em defesa do Serviço Nacional de Saúde (NHS, a sigla em inglês). Brown lembrou como depois de um incidente a jogar râguebi perdeu a visão de um dos olhos e ficou temporariamente cego do outro. "Graças ao NHS, a minha vista foi salva por cuidados que os meus pais nunca teriam tido dinheiro para pagar", disse.
Brown teve alguns momentos de humor - ao falar de gastos públicos disse que não é possível fazer dinheiro aparecer por magia "como o Harry Potter". A criadora da personagem, J. K. Rowling, fez recentemente uma doação ao Labour.
O primeiro-ministro referiu ainda as conquistas do partido no poder - mais três milhões de empregos desde 1997 -, mas defendeu que a missão do Labour está longe de estar terminada. Brown discorda quando ouve dizer que "não há mais causas". "Melhor assistência social a pessoas idosas é uma causa pela qual vale a pena lutar. Conseguir excelência nas escolas é uma causa pela qual vale a pena lutar." Finalmente, "uma sociedade justa" é "uma causa pela qual vale a pena lutar".

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