Tony e Cherie Blair foram expulsos do paraíso

a O fim do consulado de dez anos de Tony Blair à frente do Governo britânico vai passar também pela exposição de Verão da Royal Academy of Arts, que hoje é inaugurada em Londres (a abertura ao público acontece na próxima segunda-feira e vai até 19 de Agosto). O futuro ex-primeiro-ministro britânico e a sua mulher Cherie são as figuras centrais de um grande e controverso tríptico que os retrata à saída do n.º 10 de Downing Street (residência oficial do primeiro-ministro britânico) à imagem das representações medievais de Adão e Eva expulsos do Paraíso. O autor da obra (de 4,5 metros x 1,5 metros), desenhada a carvão, é o escultor Michael Sandle, de 71 anos, um artista com nome já firmado no reino das artes britânicas, que quis com ela protestar contra a política intervencionista de Tony Blair e em particular contra a sua decisão de apoiar e acompanhar a invasão norte-americana do Iraque.
"Este ano eu não tinha pensado em concorrer [ao prémio de desenho Hugh Casson, que acabaria por ganhar], mas senti-me tão furioso com as asneiras de Blair que acabei por me decidir", disse Sandle ao jornal The Guardian. Acabou por desenhar o seu tríptico em apenas dez dias, e este vai mesmo ocupar o hall central da exposição da Royal Academy, um dos grandes acontecimentos do calendário anual das artes em Londres (em 2006 teve mais
de 150 mil visitantes).
Michael Sandle chamou à sua obra Corporal Payne"s Chorus, numa referência explícita ao episódio do militar britânico Donald Payne, que brutalizou civis iraquianos com a ajuda de outros membros da sua companhia.
O tríptico, além de representar, ao centro, Tony e Cherie Blair à porta do n.º 10 de Downing Street, nus como Adão e Eva, contém, num dos lados, um soldado britânico violentando cidadãos iraquianos indefesos, e, no outro, uma pilha de cadáveres e de pedaços de corpos. É uma visão extremamente crítica e ácida da política de Blair. E Michael Sandle assume e justifica a sua "raiva". "Ele foi eleito por uma larga maioria e deixou que a sua vaidade destruísse tudo isso", disse o artista ao Guardian.
A obra de Sandle nem é conhecida pela sua dimensão política. Mas os custos humanos das guerras têm vindo a ser tratados na sua escultura. Dois dos seus trabalhos mais conhecidos em Londres são os memoriais ao Cerco de Malta, nos Trinity Gardens, e aos marinheiros, no bairro da Organização Marítima Internacional.
"Eu sei que os ingleses têm o hábito de intervir além-mar", lembrou o artista, numa referência aos sucessivos conflitos que têm contado com a presença de militares britânicos, da Serra Leoa ao Kosovo, do Afeganistão ao Iraque. S.C.A.

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