Suíça desiste de manter a divisa ligada ao euro e franco dispara
Risco de estagnação e deflação no país pode aumentar com uma divisa tão forte. As acções estão a cair quase 10%.
O problema da Suíça em situações de crise é o inverso àquele que está a ser vivido por mercados emergentes como a Rússia ou a Argentina. Sendo uma economia baseada nas exportações e com um enorme sistema bancário, o país tem uma grande capacidade para atrair capital e a sua divisa é vista como um porto seguro em tempos de turbulência. A desvantagem é que, se a moeda se valorizar muito, especialmente face ao euro, as empresas perdem competitividade e a inflação cai ainda mais.
Nos últimos anos, com os bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa a baixarem as taxas de juro a zero e forçarem a desvalorização do dólar e do euro, o franco suíço foi colocado sob forte pressão. A resposta do banco central foi a de introduzir um tecto para a apreciação do franco. A barreira dos 1,20 francos por euro não podia ser quebrada, tendo o Banco Central Suíço gasto muito dinheiro e colocado as taxas de juro de depósitos em terreno negativo para o garantir.
Agora, desistiu de fazer este esforço. Num comunicado, o banco central afirma ter concluído que “forçar e manter uma taxa de câmbio mínima para franco suíço face ao euro já não se justifica”. O tecto foi retirado e, apesar de ao mesmo tempo o banco central ter baixado ainda mais as taxas de juro dos depósitos, o franco disparou.
A meio da manhã chegou a estar a ganhar 41% face ao euro, com um euro a comprar apenas 0,85 francos suíços (contra os 1,20 anteriores). No final da manhã a divisa corrigiu um pouco, caindo para os 1,02 francos por euro. Contra o dólar, a moeda também se está a valorizar 14%.
Ao mesmo tempo, as acções da bolsa na Suíça afundaram-se, caindo ao final da manhã 9,59%.
Apesar de o banco central afirmar que a economia está agora mais adaptada a um valor alto face ao euro, sendo por isso que não se justifica a manutenção do tecto, nos mercados a opinião generalizada é a de que a autoridade monetária sentiu que já não tinha capacidade para contrariar a pressão dos mercados que empurravam o franco suíço para cima.
Para a economia suíça, uma subida tão forte do valor da sua divisa constitui um desafio importante. As exportações ficam de imediato menos competitivas no importante mercado europeu (e noutros mercados) e o preço dos produtos importados cai, conduzindo a novas descidas de inflação.
A Suíça tem-se deparado nos últimos anos com uma economia a crescer a um ritmo muito lento e com a ameaça permanente de entrada na armadilha da deflação. Esses riscos podem agora acentuar-se.
A uma semana de o BCE poder anunciar a introdução de novas medidas de estímulo monetário, que poderão ainda conduzir o euro para um valor mais baixo face ao franco suíço, os próximos meses podem forçar o banco central a adoptar também ele uma série de medidas não convencionais de política monetária.