O que falta dizer no grupo Espírito Santo

Na quarta-feira, Portugal regressa aos mercados. Mas a crise no BES pode comprometer a operação.

Depois da turbulência de quinta-feira nos mercados provocada pela crise no grupo Espírito Santo, ontem o dia foi de maior acalmia. Quer o governador do Banco de Portugal, quer o primeiro-ministro tentaram acalmar os clientes do banco para evitar uma corrida aos depósitos. Até porque as contas que o banco divulgou e as garantias dadas pelo regulador mostram que o BES está sólido, apesar das dificuldades sentidas pelas empresas ligadas à família Espírito Santo.

Mas isso não chega. Prova disso é que já ao final do dia as maiores agências vieram cortar o rating do banco, sinal de que ainda há alguma coisa por explicar. E a incerteza é a pior inimiga dos mercados. A classificação de dívida do banco, tal como acontece com a República, já estava num nível de “lixo”, mas agora ainda está pior depois de ter sido colocada num grau altamente especulativo. E vão continuar a subsistir dúvidas, enquanto a família não apresentar um plano de reestruturação para as holdings do grupo e se souber com precisão em que perda é que o BES pode incorrer em caso de incumprimento. E o grupo também ainda não explicou se os problemas que enfrenta em Angola podem de alguma forma afectar o banco.

Isto tudo devia ser dito e explicado no máximo até ao início da próxima semana. Até porque já se percebeu que o grupo Espírito Santo tem um efeito altamente contagioso nos mercados financeiros. É preciso ver que Portugal regressa aos mercados na quarta-feira para vender 1250 milhões de dívida a curto prazo e, pela reacção esta semana dos juros das obrigações do tesouro à instabilidade no grupo Espírito Santo, é possível que a coisa não corra muito bem.

Depois de três anos de resgate da troika, e muita austeridade pelo meio, o que o país dispensava nesta altura era de ficar novamente arredado dos mercados porque os credores desconfiam de nós.
 

 
 

  



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