Petição espanhola para financiar ciência através dos impostos já reuniu 100.000 assinaturas

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O financiamento da ciência espanhola tem caído ano após ano Michael Dalder/Reuters (arquivo)

Uma petição espanhola online para permitir que os cidadãos possam doar 0,7% dos seus impostos para a investigação e desenvolvimento do país já reuniu mais de 107.000 assinaturas em dez dias. O objectivo é atingir as 150.000 assinaturas até ao final do mês para enviar a proposta ao Ministério das Finanças.

A ideia veio de Francisco Hernandez Heras, um investigador espanhol de 26 anos que trabalha na Universidade de Cambridge no Reino Unido, em neurobiologia. A 3 de Janeiro lançou o pedido no seu blog Resistência Numantina.

“A investigação e a inovação são pilares fundamentais do desenvolvimento de uma sociedade moderna, e temos demonstrado muitas vezes que os cientistas espanhóis podem ser tão bons quanto os do resto dos países, se nos derem a oportunidade. Dado que os nossos bem amados líderes não parecem querer entendê-lo, talvez tenha chegado o momento de exigir que nos dêem a opção. Exige a opção na tua declaração de impostos para poderes doar 0,7% dos teus impostos para alcançar um mundo melhor!”, escreveu Hernandez Heras no seu blogue.

O pedido ecoou pela Internet e um professor de História do Instituto Espejo, em Córdoba, Miguel Ángel de La Fuente, criou a petição que pode ser assinada aqui. Na Espanha é possível doar parte dos impostos para associações solidárias ou para a Igreja Católica, que em 2010 recebeu 249 milhões de euros destas doações.

Cortes na ciência

A iniciativa aconteceu depois dos cortes no financiamento da ciência feito pelo novo Governo espanhol de Mariano Rajoy. Depois de extinguir o Ministério da Ciência, que foi absorvido pelo da Economia, o Governo espanhol anunciou um corte de 600 milhões de euros no financiamento científico para o ano de 2012, no penúltimo dia de 2011, num contexto geral de redução de gastos do Estado.

Este corte carrega numa tendência que já vem desde 2010. Em 2011, o financiamento para a ciência era de 8600 milhões de euros, menos 8% do que em 2010, ano em que já tinha havido uma redução de 15% em relação a 2009, explicava o jornal diário espanhol El País, quando noticiou a decisão governamental.

No seu blogue, Hernandez Heras refere o editorial da revista científica Nature de 1 de Dezembro, que alertava a necessidade de tanto a Espanha, a Itália e a Grécia apostarem no desenvolvimento científico como resposta à crise económica europeia, mais difícil nos países mediterrânicos.

O editorial da revista defendia que qualquer país desenvolvido sem uma boa base científica enfrentaria um futuro difícil. Além disso, explicava que os três países tinham recentemente aplicado leis que iriam aproximar a forma como se faz investigação do padrão europeu, através de regras que permitiam a flexibilização do trabalho, e apostavam no mérito.

“Agora não é altura de esperar aumentos enormes no investimento na ciência. Mas os pequenos aumentos podem fazer uma diferença desproporcional. A caminho da reforma, a ciência na Espanha, Itália e Grécia necessita de ser suportada”, lia-se no editorial.

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