Abusos sexuais na Igreja Católica: o que se sabe até agora — em textos, números e opiniões

Compilação de alguns trabalhos imprescindíveis sobre os abusos sexuais na Igreja publicados desde segunda-feira, dia em que a Comissão Independente revelou as conclusões do seu relatório.

Foto
Relatórios idênticos ao português foram revelados em vários países do mundo Nigel Roddis / Reuters

Já se sabia que o dia 13 de Fevereiro ficaria marcado pela revelação das conclusões do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa. Não se imaginava totalmente a amplitude do “terramoto” que viria a atravessar o país nos dias seguintes.

Os 512 testemunhos validados pelo grupo liderado por Pedro Strecht ao longo do último ano apontam para um total de pelo menos 4815 vítimas desde 1950. Mais do que isso, revelam que, ao contrário do que aconteceu noutros países onde houve investigações idênticas, as vítimas portuguesas eram mais jovens e a esmagadora maioria dos abusadores eram padres.

Nas suas 486 páginas, o relatório inclui 49 testemunhos de vítimas, ou feitos em nome delas, que descrevem os actos hediondos praticados contra menores de 17 anos por figuras da Igreja durante 72 anos. Os depoimentos que constam do relatório resultam da selecção feita pela equipa liderada por Pedro Strecht. No próprio acto público em que o documento foi revelado, foram lidos alguns destes testemunhos.

No dia das revelações, Hans Zollner, homem de confiança do Vaticano para o tema dos abusos sexuais, foi entrevistado pelo PÚBLICO e lançou várias questões para discussão: porque é que em Portugal há uma proporção maior de raparigas vítimas de abusos por clérigos do que noutros países? Que sanções aplicar aos prevaricadores, se se provarem as alegações? Como pode a Igreja ressarcir as vítimas?

Outra entrevista que vale a pena ler é a que foi feita ao padre Anselmo Borges. Nela, o também professor de Filosofia defende que a Igreja tem de se dispor a apoiar financeiramente as vítimas e também sugere que se questione a manutenção dos seminários e o celibato obrigatório dos padres. Já sobre o segredo de confissão, diz que “é inviolável” e não se pode acabar com ele.

Ao PÚBLICO e à Renascença, o psiquiatra Daniel Sampaio, que fez parte da comissão que estudou os abusos na Igreja propõe uma espécie de “via verde” para dar apoio psicológico às vítimas e revela que algumas pessoas abusadas esperam um gesto do Papa Francisco quando visitar Portugal.

Trabalho multimédia com 15 gráficos que traçam o retrato dos abusos sexuais, das vítimas e dos abusadores. Alguns dos números aqui divulgados foram revelados na manhã de segunda-feira pelos membros da Comissão Independente, outros resultam de uma análise à versão integral do relatório Dar Voz ao Silêncio.

Várias personalidades reagiram às conclusões do relatório. Marcelo Rebelo de Sousa, que em tempos dissera “400 casos de abusos não me parece particularmente elevado”, mostrou-se agora chocado. “[O número] Ultrapassou aquilo que tinha pensado de início e provavelmente ultrapassou aquilo que todos os portugueses pensavam quando se arrancou com a comissão”, disse o Presidente da República.

Uma das críticas mais importantes feitas pela comissão que redigiu o relatório tem a ver com a desorganização dos arquivos secretos da Igreja e os meses que foi preciso esperar para os consultar. Mas foi também a partir do documento que se ficou a saber que alguns (poucos) bispos recusaram ser entrevistados e que os que acederam (19) apontaram apenas 13 casos de abusos. Eis dois textos interessantes sobre o assunto:

O podcast P24 da manhã de 14 de Fevereiro foi dedicado ao tema dos abusos.

Finalmente, eis uma lista de artigos de opinião que ajudam a reflectir sobre estes abusos sexuais e seus efeitos.

Nos próximos meses, a Igreja Católica em Portugal terá reflexões a fazer e decisões difíceis para tomar. O pontapé de saída é a reunião da Conferência Episcopal no início de Março.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários