Covid-19: habitantes de Lisboa e Vale do Tejo devem fazer um teste por semana, defende virologista

Medida é defendida por Maria João Amorim, do Instituto Gulbenkian da Ciência. Para a região Norte, considera que a testagem deveria ser feita “quinzenalmente”.

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NUNO FERREIRA SANTOS

“Na Região de Lisboa e Vale do Tejo, uma testagem semanal [à covid-19] não é de todo disparatada.” A medida, com recurso aos testes rápidos ou autotestes, é defendida por Maria João Amorim, líder do grupo de investigação em Biologia Celular da Infecção Viral do Instituto Gulbenkian de Ciência. “A testagem é absolutamente essencial e faz toda a diferença”, disse a virologista, para quem este é o método certo para avaliar a situação individual, “como também do que se passa em contexto familiar”. Já no que diz respeito à Região Norte, e dada a menor incidência de casos em termos relativos, a investigadora defende que essa testagem deve ser feita “quinzenalmente”.

Maria João Amorim falava durante o debate “O ritmo da pandemia em Portugal: a que velocidade?”, do Ao Vivo do PÚBLICO, moderado pela editora de sociedade Rita Ferreira, que juntou na mesma troca de argumentos João Gouveia, presidente da Sociedade Portuguesa de Cuidados Intensivos, e Óscar Felgueiras, matemático e professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP).

A propósito da proposta de Maria João Amorim, o docente da FCUP enalteceu a gratuitidade da testagem em Lisboa e acabou a dar o exemplo recente de Braga. “Vale a pena fazer rastreios em contexto de incidência elevada. Em Braga, houve uma acção de rastreio massificada e detectou-se uma taxa de positividade de 0,2% em mil. A amostra pode ser pouca, mas faz a diferença ao evitar novos contágios.”

A iniciativa proposta por Maria João Amorim está relacionada com o facto de, para já, se saber que a variante Delta do coronavírus tem “um grau de transmissibilidade 60% mais elevado do que a variante Alfa que, por sua vez, tem um grau de transmissibilidade 60% mais alto do que a estirpe original”. Segundo disse, uma investigação do Instituto Pasteur, “ainda não verificada entre pares”, revela que as vacinas da AstraZeneca e da Pfizer necessitam de ser administradas em duas doses para garantirem imunidade ao vírus. “A vacinação continua a conferir protecção à variante Delta. A primeira dose não confere protecção completa, que só se adquire duas a três semanas após a segunda dose”, acrescenta Maria João Amorim.

No entanto, a investigadora do Instituto Gulbenkian de Ciência coloca alguma água na fervura quando se refere à necessidade do reforço com uma terceira dose da vacina da Pfizer. “Os dados apontam para que 12 meses depois da segunda dose continue a existir uma imunidade robusta. O mesmo não se passa se for uma nova estirpe. Neste momento, não há sinais de recuo na imunidade conferida” pela segunda dosagem.

Repensar medidas para evitar novo descalabro

A testagem semanal dos habitantes da região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) poderia diminuir as preocupações de quem trabalha na primeira linha do Serviço Nacional de Saúde. João Gouveia defende ser necessário “repensar medidas”, para evitar haver “um novo Janeiro e Fevereiro”, altura em que os casos de covid-19 dispararam em Portugal. “Temos de tomar medidas já, para que sejam mais leves e o menos estendidas no tempo possível. Quanto mais tempo nos atrasarmos, mais elas vão ser restritivas, principalmente em LVT.”

A região de Lisboa e Vale do Tejo tem vindo a registar uma subida preocupante de casos de infecção nos últimos dias. Nesta segunda-feira, por exemplo, registou 60% dos novos casos no país, sendo a única que ainda não atingiu a marca de um quarto da população totalmente imunizada. “Se agirmos já, estaremos a proteger LVT e também a atrasar a propagação a outras regiões”, disse João Gouveia.

João Gouveia sublinhou ainda a descida do número de profissionais nos cuidados intensivos como mais um alerta para a necessidade de agir rapidamente. “Perdemos profissionais porque houve muitos que foram deslocados para outros serviços. Os hospitais ganharam novos e melhores equipamentos, mas o problema é nos recursos humanos.”

O facto de haver assimetrias regionais nos números de novos infectados, especialmente entre LVT e a região Norte, pode explicar-se, entre diversos outros factores, pelo facto de Lisboa ter um aeroporto internacional, ao qual chegam passageiros vindos da Índia e do Nepal – países na origem da variante Delta. A explicação é dada por Óscar Felgueiras, que aponta ainda para algum “relaxamento” por parte das populações, a partir do momento em que percepcionam um abaixamento da taxa de incidência. Além disso, LVT tem uma taxa de vacinação completa de 20%, face aos 27% a Norte.

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