As águias-de-bonelli da Grande Lisboa vivem “extraordinariamente perto das pessoas”. Por isso há um projecto para as proteger

Novo projecto pretende juntar comunidades locais, autoridades, empresas e municípios na protecção da águias-de-bonelli na Área Metropolitana de Lisboa. Neste momento, há entre 12 e 14 casais na região.

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As águias-de-bonelli podem chegar aos 25 anos SPEA

É a mais pequena e discreta das três grandes águias que existem em Portugal e, apesar de “esquiva”, encontra-se “extraordinariamente perto das pessoas”. Essa proximidade acaba por colocar as águias-de-bonelli (Aquila fasciata) no “limiar da sobrevivência”, dados os riscos de perda do seu habitat. Agora, há um projecto metropolitano na região de Lisboa para proteger estas aves de rapina também chamadas águias-perdigueiras. 

O LxAquila, assim se chama, foi apresentado esta terça-feira e pretende juntar as comunidades locais, autoridades, como o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, empresas privadas e municípios para proteger e conservar esta espécie na Grande Lisboa. Que se tornem, no fundo, guardiões desta ave numa região onde existem 12 a 14 casais que vivem junto a zonas urbanas, estando a maioria fora de áreas protegidas e, por isso, mais exposta a riscos. 

As águias-de-bonelli vivem essencialmente em plena natureza, como na região do Douro Internacional ou no Alentejo e serra algarvia. No entanto, na Grande Lisboa convivem com os humanos em territórios densamente povoados. “Estas águias vivem extraordinariamente perto das pessoas, o que é muito raro. Por um lado, temos a oportunidade de ver e conviver com esta ave incrível, mas por outro significa que as águias estão no limite da sua tolerância: qualquer perturbação extra pode levá-las a abandonar o território”, frisa Joaquim Teodósio, coordenador deste projecto e do Departamento de Conservação Terrestre da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA).  

Em Portugal, a águia-de-bonelli tem vindo a perder população nas últimas décadas, estando por isso classificada como espécie “em perigo de extinção, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal. Há, actualmente, cerca de 150 casais em todo o país. Os adultos apresentam um corpo claro e asas escuras e uma singular mancha branca no dorso. As crias têm uma plumagem em tons ruivos e, como acontece com a maior parte das aves de rapina, as fêmeas são geralmente maiores do que os machos, segundo descreve a SPEA. E tanto o macho como a fêmea cuidam das crias, que podem chegar aos 25 anos. 

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SPEA

Por se encontrarem numa zona densamente povoada como a Área Metropolitana de Lisboa, onde vivem mais de 2,8 milhões de pessoas, e por serem aves “muito territoriais”, esta espécie é “particularmente sensível à degradação do habitat e à presença humana em redor dos ninhos” que constroem nas árvores. Por isso, uma das grandes áreas de intervenção do projecto será a prevenção e combate ao crime ambiental e a correcção de linhas eléctricas perigosas, onde as águias podem morrer por serem electrocutadas ao pousar nos postes.

O LxAquila tem um orçamento de quase dois milhões de euros, co-financiado em 75% pelo programa Life da União Europeia e coordenado pela SPEA. Até Setembro de 2025, quer promover acções que visem “minimizar alterações drásticas na vegetação e a perturbação durante a época de reprodução, que se estende de Dezembro a Junho”.

“Queremos demonstrar que é possível manter as aves e as pessoas a partilhar este território, que se pode compatibilizar a conservação das águias com as actividades humanas”, diz Joaquim Teodósio, citado em comunicado. Já na apresentação do projecto, o biólogo lembrou que desportos radicais na floresta, obras ou mesmo o voo de drones podem pôr em causa a nidificação destas águias

Este projecto contará com a colaboração de 13 parceiros, incluindo seis câmaras municipais da região (Alenquer, Loures, Mafra, Sintra, Torres Vedras, Vila Franca de Xira). Aqui, notou Joaquim Teodósio, os proprietários de terrenos privados terão também um papel importante, por exemplo, na manutenção de zonas verdes, de floresta, onde estas aves possam nidificar. Um dos objectivos do projecto será fazer mais de 40 acordos de gestão para a protecção de mais de 300 hectares para garantir que o ecossistema tem “saúde”. 

No final destes quatro anos, uma das metas a atingir seria aumentar a população para 18 casais. Até lá, a SPEA quer trabalhar na protecção de 29 ninhos actuais e históricos, marcar e seguir sete espécimes juvenis com GPS, gerir 200 hectares para presas para que coelhos-bravos e perdizes-vermelhas aumentem também a sua população. Será uma medida importante para manter estas aves e outros animais na região. 

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