Ludwig, o sueco abstémio que foi proibido de treinar

Ludwig Augustinsson tem sido titular na Suécia neste Euro 2020. Foi dos laterais mais promissores da Europa, mas tem ficado abaixo das expectativas. Mas não será, por certo, por falta de profissionalismo.

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Augustinsson em acção pela Suécia Reuters/LARS BARON

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“Nós comemos pizza de vez em quando. Para ele, o limite deve ser comer pão de centeio”. Esta frase do internacional sueco Albin Ekdal refere-se a Ludwig Augustinsson, lateral-esquerdo da Suécia cuja vida seria, para o cidadão comum, um tremendo aborrecimento.

Para este nórdico de 27 anos trata-se de fazer o possível para ir mais longe do que os demais. Numa era em que os clubes de futebol têm os mais sofisticados métodos de recuperação e desenvolvimento físicos, Augustinsson consegue ir ainda mais longe.

Oriundo de famílias financeiramente cómodas e aluno de bons colégios – factor que o diferencia de alguns companheiros de selecção –, Ludwig é apontado pelos colegas como um autêntico viciado em treino e já chegou mesmo a ser proibido pelo Copenhaga, onde jogava, de treinar fora de horas.

Mas este sueco não acata as ordens na totalidade. Gasta fortunas em técnicas e materiais para recuperar melhor e mais rapidamente do que os colegas e adversários. Na Dinamarca, chamaram-lhe o “profissional 24 horas” e “sr. Recuperação”, depois de ter comprado umas calças especiais.

“Comprei um par de calças de recuperação de 200 mil coroas [cerca de 19 mil euros]. Ajudam a empurrar o sangue para fora dos pés, para acelerar a recuperação. Nunca perdi uma época [por lesão], portanto funcionam bem. São, provavelmente, a melhor coisa que alguma vez comprei”, chegou a explicar Ludwig.

Mas o rigor e disciplina do jogador não ficam por aqui. Augustinsson é 100% abstémio, uma decisão que tomou ainda muito cedo na carreira. Formado no Brommapojkarna, foi lá que conheceu John Guidetti, internacional sueco dois anos mais velho. E foi este avançado que aconselhou Augustinsson a não tocar em álcool – ainda que o jogador assuma, de qualquer das formas, nem gostar do sabor.

“Em todas as equipas dizem-me ‘vá, bebe qualquer coisa’, mas eu sou forte e resisto. Às vezes até fico zangado, porque me pressionam, e respondo ‘bebe e depois veremos quem vai mais longe na carreira’. Até acredito que de vez em quando não faça mal, mas se for frequente reduz o desempenho (…) foi o John [Guidetti] quem começou tudo isto. É como um irmão mais velho para mim”.

Olhando para a carreira de Augustinsson todo este rigor tem dois pontos de análise. Por um lado, é de uma fiabilidade física tremenda e somou, em média, desde 2014, mais de 32 jogos por época… só no clube. Chegou, em 2016/17, a fazer 50 jogos pelo Copenhaga. 

Por outro lado, a fiabilidade e resistência contrastam com um percurso abaixo do esperado. Em 2015, foi campeão da Europa sub-21, na célebre final ganha a Portugal no desempate por penáltis. À data, Augustinsson era um dos laterais mais promissores do continente, fruto da junção de capacidade física e competência nos duelos defensivos com uma grande propensão ofensiva na qual pontificavam os predicados a cruzar e até a bater bolas paradas.

Estas valências não mudaram e devem valer-lhe um bom contrato em breve, mas Augustinsson passou “apenas” por Brommapojkarna, Goteborg, Copenhaga e Werder Bremen – tem mais um ano de contrato com os alemães, mas a descida à II divisão alemã deverá proporcionar uma mudança de ares neste Verão.

Parece pouco, para quem já foi dos mais promissores da Europa, mas não é, seguramente, por falta de treino, disciplina e profissionalismo.

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