Como a genética pode ajudar a monitorizar coronavírus

Equipa de cientistas melhorou uma técnica de sequenciação genética para conseguir controlar melhor – e de forma mais barata – coronavírus.

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Novo coronavírus JULIAN DRUCE/Instituto THE DOHERTY

Um novo coronavírus com epicentro em Wuhan, na China, tem estado a assustar o mundo. Já matou mais de 100 pessoas e infectou milhares delas. Como pode a genética ser usada para supervisionar vírus como este e observar como se espalham? Num artigo publicado esta quarta-feira na revista científica mSphere – da Sociedade Americana para a Microbiologia – uma equipa de cientistas descreve uma melhoria na sequenciação genética de nova geração para monitorizar coronavírus, sobretudo dos que têm origem em morcegos.

Os coronavírus são uma grande família de vírus que vivem em animais como aves ou morcegos. Podem transmitir-se de animais para pessoas, mas a maior parte das estirpes de coronavírus só circula entre animais e não chega a infectar humanos. Se chegarem aos humanos, podem causar doenças respiratórias, desde uma constipação até a situações mais graves a como a síndrome respiratória aguda grave (SARS) e o novo coronavírus (2019-nCoV).

Para monitorizar como os coronavírus se espalham e evoluem nos animais, tem-se usado a sequenciação de nova geração (NGS). Contudo, esta sequenciação pode ser bastante cara e muitos marcadores genéticos dos vírus podem perder-se.

Uma equipa liderada por Lin-Fa Wang (da Escola Médica da Universidade de Duke e da Universidade Nacional de Singapura) decidiu tornar as NGS mais baratas e eficazes. Para tal, aperfeiçoou uma das estratégias de NGS com sondas moleculares – sequências de ADN ou de ARN radioactivo usadas para detectar a presença de uma sequência complementar numa amostra.

Nas experiências, conseguiu-se identificar coronavírus, aumentar a sensibilidade do processo e diminuir o seu custo, indica-se num comunicado sobre o trabalho. “Não quer dizer que este aperfeiçoamento seja uma panaceia para todos os desafios da NGS, mas neste caso é um passo na direcção certa”, considera Lin-Fa Wang.

O investigador acrescenta que esta abordagem será importante para monitorizar os coronavírus em morcegos. “Os coronavírus, sobretudo os que têm origem nos morcegos, são uma importante fonte de doenças infecciosas emergentes”, diz Lin-Fa Wang, que tem a alcunha de Batman. Por exemplo, o coronavírus que causou o surto de SARS em 2003 é muito próximo geneticamente do que se encontra nos morcegos.

Embora ainda não se saiba a origem do novo coronavírus cuja epidemia começou em Wuhan, os morcegos são uma das fontes prováveis. Estes animais podem ainda ser um reservatório do ébola ou do vírus de Nipah. Num artigo científico publicado em 2018 na revista Cell Host and Microbe, sugere-se que os morcegos conseguirão albergar muitos vírus devido às adaptações evolutivas que tiveram de fazer para conseguirem voar, o que acabou por mudar o seu sistema imunitário.

E como pode a nova abordagem contribuir para combater uma epidemia? Quando não há surtos, os cientistas podem ir actualizando os bancos de sondas genéticas relacionados com coronavírus. Durante os surtos, essa informação pode ser usada para monitorizar a evolução do vírus e a sua transmissão em animais e pessoas. 

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