Cinco séries sobre seitas e os seus seguidores

A palavra “seita” é usada para identificar um grupo seguidor de um líder que promove doutrinas e práticas específicas. Pode derivar, ou não, de uma religião e tende a afastar-se do resto da sociedade e fechar-se em si mesma, criando a sua própria realidade. Estas séries retratam algumas delas.

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The Handmaid's Tale
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Colonia Dignidad
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Wild Wild Country
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Archive 81
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The Vow

The Handmaid's Tale


TVCine +
Três décadas após a impressão do romance The Handmaid's Tale, escrito pela canadiana Margaret Atwood, a sua história foi adaptada a série pelo serviço de streaming Hulu, transformando-se quase imediatamente num símbolo de resistência feminista. A explicação é simples: a sua estreia, em 2017, coincidiu com a chegada de Donald Trump à presidência norte-americana e com a eclosão do movimento anti-assédio #MeToo. A acção decorre num futuro não muito distante, quando os EUA se transformaram na República de Gilead, um regime totalitário e patriarcal baseado no Antigo Testamento que, devido a uma descida súbita da natalidade, escraviza mulheres férteis para que sejam engravidadas por homens poderosos – que lhes ficarão com os filhos. As mulheres, sendo propriedade do Estado, não têm direitos ou liberdade de expressão e todas, de um modo ou outro, são vítimas de exploração e violência. The Handmaid's Tale é narrada do ponto de vista de Offred (ou seja, “de Fred”, o homem que serve), que tem um único objectivo em mente: sobreviver e encontrar a filha. Em 2017, a série ganhou oito Emmys, incluindo melhor actriz principal (Elisabeth Moss) e secundária (Ann Dowd), realização, argumento e série dramática, tornando-se a primeira série de um serviço de streaming a receber essa distinção. Em 2018, foi galardoada com Globo de Ouro para melhor série dramática, actriz principal e secundária (novamente Moss e Dowd). Já em 2021, recebeu 21 nomeações para os Emmys.

Colonia Dignidad


Netflix
Com autoria de Annette Baumeister e Wilfried Huismann, esta minissérie documental mostra como em 1961, Paul Schäfer, um homem com ligações nazis, se fixou no Chile, depois de ter fugido da Alemanha devido a acusações de abuso sexual de menores. Ali, num vale junto aos Andes, a 350 quilómetros a sul de Santiago, comprou uma propriedade de 13 mil hectares e fundou a Colonia Dignidad, onde chegaram a viver isolados cerca de 300 alemães. Nessa colónia, o ambiente foi-se tornando cada vez mais rígido. Homens e mulheres viviam separados, os contactos íntimos eram controlados e os filhos eram retirados dos pais e isolados. Eram para lá levadas também crianças de camponeses pobres da região, que se tornaram alvo de abuso sexual por parte dos responsáveis. Anos mais tarde, antigos membros declararam ter sido vítimas de lavagens ao cérebro e que muitos viam Schäfer como a reencarnação de Jesus Cristo. Após a fuga de um dos rapazes, que contactou as autoridades, foram levadas a cabo investigações. Ao perceber que tinha a polícia em seu encalço, o alemão fugiu para a Argentina em 1997 e só em Março de 2005 é que foi capturado pela Interpol em Buenos Aires e levado para o Chile. A Justiça chilena acusou também Schäfer de colaboração com a ditadura de Augusto Pinochet (de entre 1973 e 1990) e de ter usado a Colonia Dignidad como centro de detenção e tortura de opositores de esquerda. Foi condenado a 20 anos de prisão por homicídio, tortura e abuso sexual. Morreu na cadeia no dia 24 de Abril de 2010, aos 88 anos.

Wild Wild Country

Netflix
Nascido na Índia, em 1931, Bhagwan Rajneesh, também conhecido por Osho, tornou-se guru do movimento religioso a que chamou Rajneesh. O foco das suas teorias era o despertar da consciência, a celebração da vida, a criatividade, a meditação e o amor livre, o que foi atraindo cada vez mais seguidores, não só da Índia mas de todo o mundo. No final da década de 1970, era ele já uma celebridade, deu-se início a uma tensão entre o Governo indiano e o movimento Rajneesh. Isso, associado a alguns problemas de saúde, fez com que Osho decidisse deixar o seu país partir para o ocidente. Com intenções de expandir a sua filosofia de vida, em 1981 instalou-se com a sua comunidade no Condado de Wasco, no Oregon, onde comprou um rancho de 32 mil hectares e construiu uma cidade utópica onde tudo era concebido para o bem de todos. É aqui que começa esta série documental, onde os realizadores Chapman e Maclain Way revelam como a ideologia de Osho entra em conflito com os habitantes locais, algo que se vai agravando ao longo dos anos, até se transformar num escândalo a nível nacional. Para perceber o alcance de tudo isso, os espectadores têm acesso a depoimentos de várias pessoas que viveram dentro e fora da comunidade durante a década de 1980, assim como a imagens de arquivo, notícias publicadas em jornais e televisões e centenas de vídeos gravados pela própria comunidade. Vencedora de um Emmy na categoria de Melhor Série Documental, Wild Wild Country foi lançada na Netflix em Março de 2018, após se ter estreado no Festival de Cinema de Sundance.

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Netflix
Estreada na plataforma Netflix em Janeiro de 2022, esta série de terror sobrenatural foi criada por Rebecca Sonnenshine (que trabalhou em séries como The Boys ou Diários do Vampiro), que também aparece listada como produtora executiva ao lado de Paul Harris Boardman e James Wan – o realizador que ficou famoso pelas sagas de terror Saw e The Conjuring. A história, filmada em estilo found footage (estilo cinematográfico ficcional que parte da premissa de imagens supostamente verídicas deixadas por personagens desaparecidas ou mortas), inspira-se no podcast homónimo da autoria de Daniel Powell e Marc Sollinger e acompanha o arquivista Dan Turner (Mamoudou Athie), um homem atormentado pelo passado que aceita restaurar uma colecção de cassetes de vídeo datadas de 1994. Uma vez que as cassetes estão demasiado danificadas para serem transportadas, Dan aceita fazer o trabalho numa casa isolada, situada nas Montanhas Catskill (Nova Iorque). À medida que repara várias horas de filmagens feitas por Melody Pendras (Dina Shihabi), depara-se com um enigma que, estranhamente, envolve o seu próprio pai. É assim que se vê no meio da investigação iniciada por Melody e que parece estar de algum modo relacionada com um culto satânico. O espectador vê-se transposto para duas épocas distintas: a de Dan, no presente; e a de Melody, que se encontra desaparecida desde a altura em que fez as filmagens.

The Vow

HBO Max
Fundada em 1998 por Keith Raniere e Nancy Salzman, a seita Nxivm começou como um negócio de marketing multinível, com cursos de auto-ajuda e desenvolvimento pessoal que lhes valeram milhares de dólares pagos pelos participantes. Teoricamente, o objectivo era maximizar o potencial de cada indivíduo, ajudando-o a superar os seus medos, traumas e problemas emocionais, construído numa base ética irrepreensível. Os milhares de membros, alguns famosos, eram assim recrutados através de um esquema em pirâmide, em que cada um trazia amigos e conhecidos, que se tornavam também vítimas de chantagem e extorsão. A seita começou a ser investigada em 2017. Segundo os dados recebidos pelas autoridades, havia uma sociedade secreta dentro do Nxivm, conhecida como DOS (acrónimo latino para “amo das companheiras obedientes”), que operava com as categorias de mestres e escravas. Em Outubro de 2020, Keith Raniere, depois de ter sido considerado culpado de crimes como roubo de identidade, extorsão, trabalho forçado, tráfico sexual, fraude, lavagem de dinheiro e obstrução à justiça, foi condenado a 120 anos de prisão. Para rodar The Vow, os realizadores e produtores Karim Amer e Jehane Nouhaim utilizaram filmagens e testemunho de Mark Vicente – conhecido pelo documentário What the #$*! Do We (K)now!? (2004) e um dos ex-membros da seita –, assim como de várias outras pessoas que conseguiram libertar-se. Uma segunda temporada, que se irá debruçar sobre o julgamento de Keith Raniere, foi já anunciada.

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