Banda sonora nomeada para os Óscares tem sons de clarinetista portuguesa

Intérprete e professora, Virgínia Costa Figueiredo vive em Los Angeles desde 2003. Minari, filme em cuja gravação da banda-sonora participou, não é a sua estreia no cinema.

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Para além de intérprete, Virgínia Costa Figueiredo é professora de clarinete Facebook

 A clarinetista portuguesa Virgínia Costa Figueiredo, que vive em Los Angeles, é uma das artistas que gravou música para o filme Minari, nomeado para o Óscar de Melhor Banda Sonora Original nos prémios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

A nomeação foi “completamente inesperada”, disse à Lusa a música portuguesa, referindo que “será bom para toda a gente se o filme ganhar” na cerimónia que vai decorrer em Los Angeles a 25 de Abril.

Se vencer, o Óscar será entregue ao compositor Emile Mosseri, responsável pela banda sonora de Minari, que, aos 35 anos, compete pelo prémio com “pesos-pesados” da indústria.

“Não é todos os dias que acontece tocar numa banda sonora e essa banda sonora ser nomeada para os Óscares”, frisou a artista. “Principalmente porque o compositor desta banda sonora é relativamente novo, jovem, e estas nomeações normalmente acontecem mais para grandes compositores tipo John Williams, Hans Zimmer e James Newton Howard”, sublinhou.

Os outros nomeados na categoria são James Newton Howard, por Notícias do Mundo (é a sua nona nomeação), Terence Blanchard, por Da 5 Bloods, e há uma surpreendente dupla nomeação para Trent Reznor e Atticus Ross, que podem vencer por Mank ou por Soul, neste caso juntamente com Jon Batiste.

O nome maior desta lista é o de James Newton Howard, que tem no currículo as bandas sonoras de filmes como O Príncipe das Marés, Pretty Woman, Batman Begins ou Jogos da Fome.

A inclusão de Minari surpreendeu a equipa, precisamente pela robustez da competição.

“É difícil competir com grandes produções, que custam milhões de dólares. Isto é uma produção muito mais pequena, é surpreendente que tenham sido nomeados”, disse a portuguesa. “Mas a música é fantástica, ele é realmente um compositor muito bom.”

Trata-se da primeira nomeação para o compositor e uma de seis nomeações aos Óscares de Minari, película de Lee Isaac Chung sobre uma família coreana em busca do sonho americano.

“É um filme que, ao fim e ao cabo, não é uma produção enorme de Hollywood. Não é tipo Os Vingadores. É um filme muito mais pequeno”, disse Virgínia Figueiredo. “É interessante estar nomeado.”

A artista, doutorada em clarinete, gravou a sua actuação na banda sonora num pequeno estúdio em Los Angeles, quando a parte das cordas já tinha sido gravada.

Segundo Figueiredo, é habitual os compositores contratarem orquestras para gravar violinos, violoncelos e mais cordas noutras partes do mundo, e depois gravarem os instrumentos de sopro a nível individual em Los Angeles.

“Foi o que aconteceu neste caso. Quando fui gravar, a parte das cordas já tinha sido gravada pela orquestra, em Praga, e eu estava a ouvir e a tocar com a orquestra.”

A artista disse que vai prestar “um bocadinho mais de atenção” à cerimónia de entrega dos Óscares e que tudo pode acontecer, mesmo que seja improvável.

“Vai ser um bocado difícil, mas nunca se sabe”, disse Figueiredo, acrescentando que Minari já venceu vários prémios este ano, desde os Globos de Ouro aos prémios SAG e BAFTA.

Em termos de outros projectos, a clarinetista explicou que a cidade de Los Angeles tem estado completamente parada no que toca a concertos e que só agora surgem os primeiros planos para recomeçar, com várias restrições.

A artista tem feito gravações em casa e participou recentemente na banda sonora de uma nova série de terror da Netflix, que deverá estrear no outono.

“Neste momento, a maior parte das gravações que está a acontecer é de pessoas que gravam em casa”, explicou. “Há menos produções e os estúdios não têm autorização para trazer os músicos ao estúdio, há grandes restrições.”

Virgínia Costa Figueiredo foi para Los Angeles em 2003 para estudar graças a uma bolsa da Gulbenkian e vive na cidade desde então. É doutorada em clarinete e professora em várias faculdades da região. Esta não é o seu primeiro projecto no cinema. Já em 2018 participara nas gravações musicais de The Last Black Man in San Francisco, filme de Joe Talbot co-produzido pelo actor norte-americano Brad Pitt.

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