Ainda não se sabe se Vitalina Varela vai aos Óscares — mas já soma fãs em Hollywood

Willem Dafoe e Spike Lee estão entre os maiores admiradores do filme de Pedro Costa, que foi alvo de um longo e elogioso artigo da IndieWire na terça-feira.

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Pedro Costa na 72.ª edição do Festival de Locarno, em 2019, com o Leopardo de Ouro nas mãos LUSA/URS FLUEELER

Algumas figuras consagradas de Hollywood gostaram do que viram quando assistiram a Vitalina Varela, a longa-metragem do português Pedro Costa que pode vir a ser seleccionada pela Academia para a categoria de Melhor Filme Internacional nos Óscares 2021. É o caso do actor Willem Dafoe, por exemplo, que destacou à IndieWire a natureza íntima e “humanizadora” do filme. “Os intérpretes e a câmara são tão pacientes e têm uma presença tão assombrosa que é impossível não sentir empatia. Por mais que a história e a cinematografia sejam pesadas, o efeito é humanizador graças à simplicidade, nobreza e elegância da realização”, comentou.

Vitalina Varela foi na terça-feira tema de um longo artigo escrito por Eric Kohn, um dos principais críticos da IndieWire. “Os espectadores dispostos a envolverem-se com o trabalho de Pedro Costa descobrirão que a componente emotiva se instala em cada deslumbrante fotograma, acabando por tornar-se incontornável. Apesar do seu formalismo preciso e da abordagem experimental, o filme pode ser o candidato aos Óscares mais desolador e comovente nestes tempos atípicos, captando a luta da protagonista Varela para se confrontar com a vida que deixou para trás”, aponta o autor.

Kohn não deixa de reparar, no entanto, que o ritmo lento da longa-metragem não vai propriamente ao encontro do tipo de proposta artística que mais sucesso costuma ter nos Óscares. Willem Dafoe concorda: “Claramente, o cinema do Pedro não é entretenimento, não é para toda a gente. Mas é um cinema muito puro.”

O próprio Pedro Costa, que ganhou com este filme o Leopardo de Ouro de Locarno em 2019, parece estar a tentar moderar o entusiasmo relativamente à possível presença de Vitalina Varela entre os nomeados aos Óscares. “Acho que esta é a parte em que é suposto pôr uma cara feliz”, disse o cineasta, citado pela IndieWire. “Adoraria que um tipo diferente de espectadores visse este filme. Se as pessoas o virem por causa desta coisa dos Óscares, boa.”

Vitalina Varela, que também tem em Spike Lee um admirador confesso, não foi a primeira escolha da Academia Portuguesa de Cinema para concorrer à categoria de Melhor Filme Internacional. A primeira votação distinguiu Listen, de Ana Rocha de Sousa, mas a Academia de Hollywood viria a considerar essa longa-metragem não-elegível, por não cumprir o critério que exige que pelo menos 50% do filme candidato seja falado em língua não-inglesa.

Antes do anúncio oficial da recusa, o presidente da Academia Portuguesa de Cinema, Paulo Trancoso, já havia dito que a prevalência da língua inglesa em Listen poderia constituir um problema. “Esperemos que não haja entraves, só um comité específico fará a análise dos filmes. Mas não poderíamos coarctar o filme a ser candidato”, frisou em Novembro. “O filme tem língua inglesa, tem língua portuguesa, tem língua gestual, o contexto da linguagem está adequado, é uma história facilmente identificável que é sobre uma comunidade portuguesa”, viria a acrescentar nessa ocasião, tentando justificar a validade da sua consideração para os Óscares.

A cerimónia de entrega dos Óscares, que já foi adiada uma vez devido ao impacto da pandemia no cinema, realiza-se a 25 de Abril.

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